Somos Assim - romance infanto-juvenil - primeiro capítulo

Somos assim

– Por que não podemos sair daqui?

– Porque somos assim – disse Rafael, baixando os olhos.

Não sei há quanto tempo estamos aqui, presos nesta gaiola de barras grossas, tão pequena que mal podemos nos movimentar. Não conseguimos correr, nem pular. Ficamos a maior parte do tempo sentados. À noite deitamos para dormir. Nossa cama é um amontoado de papéis e panos velhos. A comida é trazida numa tigela duas vezes ao dia, e o banheiro é um canto da gaiola onde fazemos nossa sujeira. Não saímos da gaiola para nada. Ela possui rodinhas para que sejamos transportados quando preciso. A cada três dias nos dão banho, esguichando água com uma mangueira dentro da gaiola. Quando temos sorte, nos secamos ao sol. Mas quando chove, passamos frio. Nossa vida cabe aqui, nesta casa gradeada. Não me lembro de um dia ter estado do outro lado das grades.

É tudo tão normal. Acordamos quando o sol aparece, comemos a comida que nos trazem e somos levados sempre para o mesmo lugar: a loja. Quando o sol vai embora e a escuridão chega, nos levam de volta para os fundos da loja, onde passamos a noite. Ganhamos mais um pouco de comida e, sem termos o que fazer, acabamos dormindo.

Aquela noite não tinha sido diferente, mas eu estava diferente. Sem conseguir dormir, olhei para a grade e tentei ver o mundo além dela. Comecei a pensar: que mundo é este onde vivemos? Por que temos que ficar aqui? Por que estamos presos, e eles não? Por quê? Porque somos assim, disse Rafael, meu melhor amigo.

Somos Assim, Giz Editorial, 64 páginas

Para adquirir o livro: www.gizeditorial.com.br

Aline Ponce
Enviado por Aline Ponce em 11/12/2005
Reeditado em 02/03/2007
Código do texto: T84136