"Meninas de Sallen" cap. 3

“EXPLORANDO A NOVA VIDA”

A cozinha ficava em um corredor que levava a sala pelo lado esquerdo, e como já sabia que os homens da mudança lotavam a sala de caixas Mary foi pelo lado direito. Havia apenas quatro cômodos, o primeiro ficava ao lado de uma pequena mesinha com um arranjo de flores e um quadro de uma maçã. Mary tentou abri-lo mas estava trancado, forçou um pouco mais, mas nada aconteceu. Foi para o próximo estava aberto, mas não havia nada de interessante: era uma sala com uma lareira do lado esquerdo, frente a ela havia três poltronas, no centro três mesas redondas com cadeiras antigas e cobrindo todo o lado direito da sala havia no mínimo seis estantes abarrotadas de livros, velhos e empoeirados. Mary não gostava muito de ler, por isso só deu uma pequena passada de olhos nos livros sem nem ao menos ler seus títulos e saiu da sala.

Encaminhou-se ate o próximo cômodo, que descobriu ser uma pequena despenca, mas se espantou com o que encontrou lá, pois não havia somente latas de ervilha e caixas de leite, havia também mais daqueles vidros com coisas viscosas, potes com pós brilhantes e estranhos e pequenos fracos com líquidos brilhantes, alguns mais ralos outros mais grossos, alguns soltavam pequenos bolhas e alguns pareciam estar congelados nos frascos. Mary abriu um pequeno frasco vermelho e o cheirou: o cheiro era de alguma coisa quente, como se tivesse acabado de sair do fogo, tinha um cheiro gostoso, uma fragrância doce, como se fosse groselha, dava vontade de beber, aquele cheiro doce e quentinho, Mary não estava resistindo, virava aos poucos o frasco para boca que já estava aberta, pronta para receber o liquido doce, estava se aproximando, o fraco já tocava os lábios, agora era só vira-lo mais um pouquinho e sentir o ...

-MARY!!!

Mary pulou quase um metro do chão, seu coração pulou mais alto ainda quando viu a avó na porta. A expressão da velha era de aborrecimento, e Mary teve a certeza de que não devia estar ali, muito menos prestes a tomar o liquido daquele frasco.

-o que você esta fazendo aqui? –perguntou a velha aborrecida tomando o frasco da mão de Mary e o recolocando no seu lugar.- o que pensa que estava fazendo? Como vai bebendo algo que nem sabe o que é? Ficou louca?!

-Não, me desculpe, eu não pretendia...- Mary sentiu-se estranha ali balbuciando uma desculpa para aquela senhora de cabelos desgrenhados. Nunca foi de dar desculpas esfarrapadas, muito menos de gaguejar na hora de faze-los, geralmente respondia sua mãe quando levava uma bronca e dependendo da resposta ganhava um bofete na boca, mas nunca gaguejou. Sentia-se estranha diante da avó.

-Saia daqui e não fique mais xeretando por ai.- ralhou a avó sem dar atenção às desculpa Mary e apontando a porta aberta.

Mary saiu correndo pelo corredor assustada, ninguém nunca lhe deu tão medo quanto à avó, não teve medo nem sequer do diretor de sua velha escola, depois que acionou o alarme de incêndio só pra ver o que acontecia; mas agora naquela sala com sua avó

havia sido diferente, o olhar severo caindo sobre ela, à voz rouca e aborrecida, as sobrancelhas franzidas, fizeram Mary se arrepiar, não queria ficar perto da velha, não queria morar com ela naquela casa estranha queria voltar para sua casa e ficar longe daquela bruxa.

Mary correu para a sala, estava abarrotada de caixas, e os homens finalmente tinham acabado de descarregar a mudança e agora levavam os moveis para o andar de cima e começavam a montar o que havia para ser montado. Não havia espaço para Mary ali, então saiu.

Sentiu saudade de seu antigo jardim, com sua bela grama verde e aparada, a roseira e as tulipas e a pequena macieira onde seu pai colocou um pequeno balanço que a fez muito feliz em sua infância, também havia um banco onde sentava para conversar com lisa nos dias mais quentes; mais agora olhava para aquele jardim onde a grama era cinza e a roseira estava morta, sentiu um pequeno aperto no coração e uma grande vontade de chorar, ela respirou fundo e olhou para sua nova rua, procurando algo que a livrasse do choro, então viu que a garota continuava sentada na calçada, e agora observava atentamente o movimento na nova casa de Mary.

Mary encarou a menina por um tempo, não entendia porque a garota olhava tanto para ela desde a hora que chegou, era normal. Será que tinha algo errado em seu rosto, uma sujeira

talvez, ou será que seu cabelo estava bagunçado? Foi se olhar no espelho do carro que estava estacionado atrás do caminhão.

Não havia nada de errado com seu rosto:continuava branca, com os olhos pretos e cabelos negros; sua maquiagem não havia borrado, seu lápis de olho e sua sombra preta continuavam intactos e seu batom roxo não havia saído; seu cabelo estava bom, do jeito que deixou quando saiu de sua ex- casa: volumoso e arrepiado. Olhou para sua roupa, estava usando um vestidinho preto de alças com a saia rodada, meia calça rosa clara e coturnos com cardaços; não havia nada de errado em seu traje, estava normal e não estava sujo, então o que ela tanto olhava?

Mary olhou pelo retrovisor do carro, ela continuava a olhar, mas resolveu ignorar a garota, provavelmente era só uma curiosa; apanhou um cd do seu cantor de rock preferido, ozzy osbourne, e colocou no ultimo volume. O carro chegava tremer com o som da musica paranoid, e Mary riu da expressão no rosto das senhoras que agora vinham caminhando pela rua: elas olhavam para a casa e para o carro boquiabertas, e taparam os ouvidos para não ouvir a musica, caminharam até a garota da calçada e falaram com ela, após a resposta da menina começaram a cochichar excitadas entre si e olharam novamente para a casa boquiabertas e com um olhar estranho, meio censurado, como se estivessem olhando para um lugar indecente, como se a casa fosse alguma espécie de puteiro.

Mary não gostou disso, e achou que as velhas estavam cochichando demais. Saiu do carro e as encarou firmemente.

Ao vê-la as velhas cochicharam mais ainda, como se Mary fosse a puta do puteiro, que elas olhavam espantadas. Mary irritada já ia perguntar o que tanto olhavam quando sua mãe a chamou da porta da casa.

-Mary! Abaixe esse som e entre já. Venha ajudar!

Obedecendo a mãe Mary desligou o som e entrou, mas antes de uma ultima olhada para as velhas, e fez questão de apresentar uma expressão arrogante e superior, para mostrar que não foi com a cara delas.

-muito bem Mary, pegue suas malas e suas caixas e vá arrumar seu quarto, já montaram sua cama e seu guarda roupa.- disse Rita entregando a Mary duas caixas pesadas que fizeram os joelhos da garota dobrarem.

Com o peso das caixas nas mãos, Mary subiu a velha escada que ficava na sala e levava ao andar superior, onde ficavam cinco quartos e a escada que levava ao sotom.

Ela entrou no primeiro quarto do corredor, até que era grande, e a janela dava pra rua, já haviam montado lá seu guarda roupa ao lado de sua cama, mas ela gostaria de ter dado uma limpada no chão antes, estava coberto de uma poeira branca. Colocou as caixas no chão e apanhou as outras lá embaixo e suas malas, depois de umas cinco viagens de baixo pra cima começou a organizar seus pertences.

Primeiramente teve que varrer o chão para colocar seu tapete macio de pelos roxos e então guardou todas suas roupas e sapatos no guarda roupa, fez sua famosa pilha de revistas no centro do quarto, tinha uma boa quantia de revistas (moda, musica, caras bonitos, etc) e sempre a arrumava em uma pilha bagunçada, dava uma boa impressão.

Na prateleira, acima da escrivaninha que arrastou para o lado esquerdo, pois já estava acostumada, ajeitou seus bonequinhos: duendes, bruxinhas, magos, bichinhos estranhos, etc... também sua coleção de cartas de baralho e uma velha bola de cristal que emitia um brilho nevoento, a comprou em uma loja espírita em que foi uma vez com a mãe, mas só o fez porque achou que ia ficar legal ao lado dos bonequinhos e do baralho.

Na parede colou pôsteres do ac\dc e do ozzy e também da sua grande idola dos filmes de bruxas: Elvira, a rainha das trevas!

Depois dos pôsteres estarem pregados, a pilha e as roupas arrumadas, e os bonequinhos e os retratos estarem em seus devidos lugares Mary se jogou exausta na cama e olhando para o teto onde colocou seu melhor pôster da Elvira acabou dormindo.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 03/02/2008
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