"Meninas de Sallen" cap.5

"no sotom"

Quando estavam voltando para casa passaram enfrente a uma grande casa salmão, onde Castidade Roos estava conversando muito absorta com mais três velhas, porem, levantou a cabeça e encarou o carro quando elas passaram, depois se voltou para as velhas e disparou a falar como se tivesse uma língua a jato.

-não gostei dela, aposto que esta fofocando sobre nós novamente.- disse Mary fechando a cara.

-Sim, e se quer saber, acho que ainda haverá muitas fofocas,-disse Rita virando na rua sem saída.- mas devemos ser superiores e não descer ao nível dela, deixe que ela fale e continue sua vida.

-Ok. Mas não vou ficar levando desaforos pra casa.- disse Mary decidida.- mamãe você morou aqui quando era pequena?

De repente o rosto da mãe anuviou-se e ela pareceu entristersser-se.

-não. morei com papai em Boston desde que me entendo por gente,- respondeu ela deprimida.- mamãe disse que era um lugar melhor para mim, que minha educação ia ser melhor e essas coisas.

-E não é verdade?- perguntou Mary sem achar nada de errado nisso; ia ter adorado morar em Boston com o pai ao invés de morar naquele lugar chato.

-Bem, nenhuma criança pequena gosta de ficar longe da mãe, muito menos em outra cidade. Mas agradeço a ela por isso, aquela foi uma época difícil, e se eu não tivesse ido pra Boston talvez não estivesse aqui, pelo menos não tão bem assim.

-Por que?- perguntou Mary se assustando com a resposta da mãe.

-Não é nada, outro dia eu conto.- respondeu Rita com um tom de ponto final, estacionando o carro enfrente ao numero 13.

Vovó estava cozinhando alguma coisa verde em um caldeirão, havia fumaça cobrindo quase toda a cozinha, e um cheiro realmente estranho no ar.

-o que é isso vovó?- perguntou Mary enfiando a cara em cima do caldeirão.

-Estrato de ervas.- respondeu vovó matilda jogando um punhado de um pó verde no caldeirão.

-E pra que serve?- quis saber Mary agora avaliando o pó e todas as outras coisas estranhas que estavam em cima da mesa: vidros com pós estranhos, gosmas verdes cintilantes, pedaços de plantas e um pequeno frasco com um liquido verde sujo.

-Para acalmar, limpar, purificar, curar...para muitas coisas,-respondeu vovó jogando mais folhas no caldeirão.- as ervas têm mais poder do que você imagina Mary querida, toda a natureza tem um poder incomparável: as ervas são capazes de curar a feridas mais profundas e as doenças mais graves, podem produzir as fragrâncias mais doces, os sabores mais gostosos, as poções mais poderosas...não subestime as ervas Mary.

Mary não entendeu o que a avó quis dizer com isso, mas deixou de lado, pegou um pedaço de bolo e subiu para o quarto.

Olhou em volta e sentou-se na cama, não havia muito para se fazer ali, não tinha nada para ver ou fazer, tv, computador, musica...nada. também não tinha amigos, provavelmente ia ter que passar todos os dias dentro daquela casa velha mofando como tudo mais ali. Mas deste pensamento lhe veio uma idéia: ia ver as coisas mofadas da casa, ainda não tinha ido ao sotom. Resolveu explorar apesar da avó ter lhe dito na tarde anterior para não xeretar por ai.

Colocou a cabeça para fora da porta, verificou se não havia ninguém no corredor e orreu para a porta onde havia a escada que levava ao sotom.

Era uma escada realmente grande, devia ter uns trinta degraus, estava coberta de poeira e a madeira rangia sobre o pé de Mary. A garota chegou ao fim a escada e se deparou com um quarto, não conseguia ver nada, estava tudo completamente escuro, deu um passo à frente e bateu com o joelho em alguma coisa.

-ah diabo! Que droga é essa?- resmungou ela esfregando o joelho com a mão.

Deu meia volta e desceu novamente a escada.

-vou pegar umas velas.- disse para si mesma descendo para a sala.- mas onde tem velas?

Foi até a cozinha, vovó não estava lá, revirou algumas gavetas do armário e encontrou três velas.

-acho que isso serve.- disse ela apanhando também fósforo.

Subiu novamente ao segundo andar verificou se estava tudo limpo e foi novamente para o sotom.

Depois de bater novamente com o joelho em alguma coisa acendeu as velas.

De repente um grande salão se iluminou, estava apinhado de coisas, tudo coberto por lençóis brancos empoeirados; deu um passo a frente e descobriu a coisa em que bateu duas vezes: era um baú de madeira, estava trancado com um grande cadeado, Mary tirou um grampo do cabelo e tentou abri-lo, mas sem sucesso. Na verdade nem sabia porque queria abri-lo, então continuou seu caminho.

Havia um grande piano coberto por um pano vermelho, caixas e mais caixas, e de repente Mary se sentiu muito empolgada e começou a descobrir tudo, em dez minutos estava tudo exposto e Mary ficou boquiaberta com tudo o que via.

Havia quadros, dezenas de quadros, todos com a mesma mulher e o gato que havia na sala, mas em cada quadro estavam em diferentes situações : em um ela estava sentada numa grande cadeira dourada com o gato preto no colo; em outro estava em pé com a mão estendida olhando um grande anel com uma pedra vermelha em seu dedo; em outro estava enfrente a uma mesa cumprida coberta com uma toalha roxa e sob ela havia um grande livro em cima de uma almofada vermelha, e velas pretas em castiçais de ouro; em um mais sombrio estava em frente a uma casa velha, até parecia mal assobrada, seu olhar negro estava vidrado, olhava para alguma coisa a sua frente, havia relâmpagos no céu, em seu rosto havia uma expressão de pavor, Mary arrepiou-se com a imagem. Em outro ela caminhava à frente de uma grande multidão, as pessoas tinham nas mãos grande tochas, facões, pás, garfos de varrer grama e pedaços de madeira; ela estava com as mãos amarradas por uma corda e um homem a puxava pela outra ponta da corda, em seu rosto havia mais pavor ainda; no penúltimo ela estava amarrada em um tronco e ao seu redor havia uma grande fogueira, sua boca estava escancarada, como numa espécie de grito silencioso, seu rosto estava branco como gelo, apesar das chamas ao seu redor e em seu olhar estava a personificação exata do terror e do medo. Mary sentiu um calafrio olhando aquela imagem, era como se podesse sentir as chamas queimando ela mesma, sentiu pena daquela mulher; mas sacudiu a cabeça e olhou para o ultimo quadro da mulher. Neste a imagem era completamente diferente: ela usava um vestido branco com uma capa e um capuz, de modo que só a ponta de seus cabelos e seus olhos negros como a noite ficavam a mostra, e dessa vez estava no topo de um penhasco, onde havia uma grama extremamente verde, e na sua frente se estendi o oceano, grande e majestoso, correndo para o infinito para se encontrar com o sol cor de sangue que se punha nas bordas da terra.

-esse sim é lindo!- disse Mary olhando encantada para o quadro. Mas de repente lhe veio uma pergunta a cabeça:- mas por que será que vovó tem esses quadros? Será que ela tem algo a ver com essa mulher ou é por que só gostou mesmo? Mas a vovó tem cada gosto.

Ela continuou andando e encontrou mais coisas, dezenas de livros, que dessa vez resolveu ver os títulos e se surpreendeu com eles: um se chamava “a queima das bruxas no século XVII”, outro era “As bruxas de salem”, “Caça as bruxas na nova Inglaterra”, “mil ervas e poções”, “numerologia avançada”, “Segredos da lua”, e tantos outros que Mary se cansou de ver e foi olhar outras coisas.

Havia vestidos imensos e cheios de panos, como os da mulher do retrato; também tinha dezenas de velas de todos os tamanhos, cores e formatos; havia grandes caldeirões como aquele que vovó estava fazendo a sopa ou seja lá o que fosse de ervas, e o que mais surpreendeu Mary, um baú onde havia milhares de jóias, tantas jóias que até ofuscaram a visão de Mary; jóias de todos os tipos: com pedras grandes pedras pequenas, brilhantes e reluzentes, correntes de ouro e prata, anéis e pulseiras de ouro branco, colares de pérolas, grandes colares com pedras de diamante, esmeraldas, e o que mais impressionou Mary, um grande colar com corrente de ouro e uma grande pedra de rubi, redonda e com um grande brilho reluzente, só que o seu vermelho era estranho, uma mistura de sangue com a cor do sol quando se põem daquele jeito alaranjado; Mary ficou ali com a pedra na mão, a observando, a achou belíssima, estava pensando seriamente em surrupia-la daquele soto velho,e de repente lhe veio um pensamento: “se vovó tinha tantas jóias caras e preciosas, por que morava ali? Por que não vendiam algumas e comprava uma casa melhor? Talvez em Boston, e por que não usava as jóias? Por que tinha aquela aparência de mendiga, aquela casa horrorosa se tinha uma pequena, ou talvez grande fortuna em jóias?”

Ainda havia muito a se descobrir de vovó matilda, mas a atenção de Mary voltou novamente para a pedra. Apesar de seu tamanho não era pesada, era leve e fria, seu brilho sanguinário parecia ficar mais forte a cada momento; Mary olhava profundamente para a pedra como se esperasse ver dentro desta, quanto mais olhava mais queria olhar, era com se o brilho, como se a pedra a chama-se, aproximava-se cada vez mais da pedra, os olhos fixos, vidrados, sendo puxados pelo sol de sangue que havia lá dentro; seu nariz já tocava a pedra gelada, mas seu olhar não desviava, podia já até ouvir a voz da pedra, não havia como se aproximar mais, mas continuava ali, e seu nariz começava a atravessá-la, iria entrar dentro dela, sim iria entrar, ai sim se sentiria completa, ia se sentir satisfeita, iria atender ao chamado do sol, iria atender ao chamado do sangue; estava entrando, seus olhos agora podiam ver o sol brilhar majestosamente com seu sangue escorrendo, mais vermelho do que nunca, só mais um pouco e seu rosto estaria completamente mergulhado na pedra, só mais um pouco e tocaria o sol, só mais um pouco, mais um pouco, mais um pouco...

-miiinnhhaauuu!!!!!!!

Um som alto e terrivelmente agudo, como um grito louco e assustador, mas também como se desse uma advertência, fez Mary voltar de seu mergulho tão rápido quanto à velocidade da luz. Seu coração pulou, levou um susto, alguém interrompeu seu contato com o sol, um grito quebrou sua ligação com a pedra e a apavorou, “oh céus tomara que não seja vovó, ela poderia me dar uma surra!”

Olhou para trás relutante, o coração a mil por hora, arfava e transpirava, estava meio tonta, olhou para trás, percorreu os olhos pelo sotom e então respirou fundo com alivio, não havia ninguém, nada de vovó, era apenas um gato, um gato grande e magrelo, com olhos intensamente verdes, como aquelas esmeraldas do baú e os pelos tão negros como a mais profunda noite. Aliviou-se.

-o que esta fazendo aqui bichano?- perguntou irritada ao gato.- quase me matou do coração.

O gato a encarou, fixou os olhos verdes nos olhos negros de Mary, tinha um olhar estranho, como se censurasse a garota por estar ali, em um local que ela sabia muito bem que não devia estar. Mary se sentiu estranha, até parecia que o gato entendia que ela estava fazendo algo errado, parecia que ele lhe dizia para largar aquelas coisas ali e ir embora, parecia que pensava, Mary pensou que ele iria até falar se ela não se mandasse dali.

De repente um barulho alto no andar de baixo fez Mary desviar os olhos do gato, alguém bateu uma porta com força, provavelmente era vovó, Mary alarmou-se.

-tenho que me mandar daqui,- disse pra sim mesma fechando o baú e o cobrindo com o pano branco.- mas tenho que cobrir todas essas coisas, até eu terminar pode ser tarde.

Rapidamente Mary começou a jogar panos de qualquer jeito por cima das coisas do sotom, o gato continuava a observa-la, cobriu os quadros de qualquer jeito, os baús e o piano, então apagou duas velas e deixou apenas uma acessa que usou para ir até a escada, verificou se não havia ninguém no corredor e correu rapidamente para seu quarto.

Mal se sentou na cama quando ouviu vovó subindo a escada e chamando por ela.

-Mary onde esta? Tem uma garota lá embaixo procurando por você.

-Estou aqui vovó,- disse Mary saindo do quarto e tentando parecer o mais displicente possível.- deve ser a Sheila, ela disse que íamos dar uma volta na cidade para ela me mostrar umas coisas.

-Ah, mas que bom,-disse vovó sorrindo.-vejo que já fez amizades. Vá logo então, não deixe a garota esperando.

Sem desobedecer à ordem Mary desceu rapidamente as escadas e saiu para o jardim onde Sheila esperava por ela.

-por que não entrou?- perguntou Mary cumprimentando a garota com um beijo no rosto.

-Aqui fora esta bom não se preocupe.-respondeu sheila olhando a casa com um olhar duvidoso.

-Tudo bem então, vamos?

-Vamos.

Matilda abriu a porta que dava para e escada do soto e estranhou encontra-la aberta.

-Ue, mas quem abriu isso?- perguntou para si mesma subindo a escada.

Estava tudo escuro, bateu palmas e de repente todo o soto iluminou com uma luz forte e clara.

-mas que bagunça é essa?- perguntou vovó olhando para as coisas mal cobertas com os lençóis brancos, algumas coisas nem se quer estavam cobertas, e haviam coisas fora do lugar e jogadas por ai. Caminhou até um pequeno baú e o abriu, remexeu dentro dele e então pareceu assustar-se.

-Oh meu deus onde esta?!?

-Ela pegou.- respondeu uma voz de homem atrás de matilda.

-E agora?- perguntou a senhora sem se voltar para ver quem é.

-Deixe que tudo aconteça naturalmente.- respondeu a voz.- deixe que ela veja e descubra se assim for pra ser.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 05/02/2008
Código do texto: T846313