Ressurreição
É noite e me sinto como um enfermo,
Minha doença não tem cura e acho ainda a vida bela.
Fiquei calado esperando uma estremunção.
Algum ser amigo para abrir a veneziana da janela.
Quando eu era velho as coisas não funcionavam assim,
Apenas ouvia calado os sofrimentos que engolia a seco.
Agora, na meninice, me espanto com o que penso de mim.
E consigo criar sentido por mim mesmo, mas por algum preço.
Não viverei solitário ou sem paixão
Não engolirei a seco ou sem apetite
Não serei perfeito nessa canção
Nem me preocuparei com o que não existe
Já é madrugada e me vestiram um terno
Minha doença não teve cura e acho ainda a vida bela
Fiquei calado esperando um caixão
Algum ser amigo cobriu-me com terra
Quando eu era velho as coisas não funcionavam assim
Agora espero inocente brotar tal qual planta
Voltar a meninice, viver novamente tudo até o fim,
Provar que quem esta vivo canta, canta canções assim:
Sem exageros, nem omissão,
Não trate de teses ou palpites,
Que não seja perfeita a canção,
Para ser fiel a tudo que existe.