CÂNTICO
CÂNTICO
(Delmo Biuford)
O silêncio sibila qual tiro na sala,
A solidão dá sãs às cobras dos sonhos,
Tambores nas calhas: seus dedos de chumbo
Gemem feitos aos vermes no bordão das harpas.
A palavra tem vida e dá vida as pedras,
Papéis manuscritos num cenário avesso,
Tecendo nuvens no rumor da chuva,
Nutrindo o verso úmido e o frio das facas.
Imagem, vertigem, idéia em movimento,
Palavra acesa e portão sem trincos.
Eu e a poesia num visor complexo,
Eu e o silêncio antecedendo o salto,
Eu e a palavra que deforma a fala
Diante do espelho das visões dos magos.
Tenho a aquarela em fogos de artifício
A simular na alma a morte das estrelas,
O coração das rochas, mas uma leveza,
Voo além do espaço e quiçá mais alto.
Imagem, vertigem, idéia em movimento,
Palavra acesa e portão sem trincos.
É preciso, às vezes, construir como se esculpisse no invisível,
Imagens de fumaça que atém na vertigem a idéia pagã.
Há uma fonte de luz nos delírios febris, nas palavras tropéis
Abrindo túneis nos meus sonhos.