CÂNTICO

CÂNTICO

(Delmo Biuford)

O silêncio sibila qual tiro na sala,

A solidão dá sãs às cobras dos sonhos,

Tambores nas calhas: seus dedos de chumbo

Gemem feitos aos vermes no bordão das harpas.

A palavra tem vida e dá vida as pedras,

Papéis manuscritos num cenário avesso,

Tecendo nuvens no rumor da chuva,

Nutrindo o verso úmido e o frio das facas.

Imagem, vertigem, idéia em movimento,

Palavra acesa e portão sem trincos.

Eu e a poesia num visor complexo,

Eu e o silêncio antecedendo o salto,

Eu e a palavra que deforma a fala

Diante do espelho das visões dos magos.

Tenho a aquarela em fogos de artifício

A simular na alma a morte das estrelas,

O coração das rochas, mas uma leveza,

Voo além do espaço e quiçá mais alto.

Imagem, vertigem, idéia em movimento,

Palavra acesa e portão sem trincos.

É preciso, às vezes, construir como se esculpisse no invisível,

Imagens de fumaça que atém na vertigem a idéia pagã.

Há uma fonte de luz nos delírios febris, nas palavras tropéis

Abrindo túneis nos meus sonhos.

Delmo Biuford
Enviado por Delmo Biuford em 15/01/2009
Código do texto: T1386750