"CANTIGA de ACORDAR"

Foi uma ilusão

Uma insensatez

Há que pôr o chão

Nos pés

Era como um trem

Que anda sem passar

Era um tempo sem

Lugar

Mas

foi um sonho bom

De sonhar porque

Me sonhava com

Você

E então seu canto veio me acordar

Era uma ilusão

No interior

De uma outra ilusão

Maior

Mas

Você foi pro sol

Noite me envolveu

Num silêncio igual

Ao seu

E então seu canto veio me acordar

Tudo é uma ilusão

Os que estão aqui

Esses não estão

Em si

Do universo, o além

Faunos ou mortais

Vão restar mais nem

Sinais

Tudo o que se vê

É o sonho de algum

Pobre sonhador

Todas as estrelas

Todas as misérias

Todos os desejos

E a canção do meu amor

Tudo o que se viu

tudo o que se foi

Última ilusão

Amanhece já

Vai-se abrir o chão

Quiçá

A ilusão se esvai

É uma cena só

E a cortina cai

Sem dó

Vai cessar o som

A sessão já foi

Despertar é bom

Mas dói

Pedras vão rolar

Choram serviçais

Vão se espatifar

Vitrais

Tomba o refletor

Ardem camarins

Cai no bastidor

A atriz

Descarrila o trem

O pilar cedeu

Vai morrer meu bem

E eu

Num jardim fugaz

De espirais sem fim

Eu corria atrás

De mim

O homem se distrai

Dorme em boa fé

Sua sombra sai

A pé

Mas

Foi uma ilusão

Uma insensatez

Há que pôr o chão

Nos pés...

(*) de Chico Buarque e Edu Lobo.

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 11/02/2009
Reeditado em 11/02/2009
Código do texto: T1432838
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