Mentiras Eleitorais

Brasileiros, brasileiras,

É hora do discurso,

De promessas e besteiras,

De roubalheira, de jogo sujo.

Eu me garanto, tá tudo certo;

Dou pra cada pobre um real.

É tudo mesmo analfabeto,

Que se dane o direito eleitoral!

É todo mundo otário,

Papai aqui é o malandro!

Eu nunca fui um operário,

Mas o que sou mesmo é do ramo:

Do ramo dos ladrões,

Do ramo dos patrões

E dos sabichões...

É essa a realidade meu caro!

Brasileiras, brasileiros,

Sou da mais alta seriedade,

Sou esperto e sou ligeiro;

Eu nunca falo a verdade.

Candidatei-me a vereador

E se bobear viro presidente;

Faço acordo pra governador

Pra ficar mais experiente.

É todo mundo burro,

Papai aqui é quem manda!

Eu nunca pago o tal do juro;

Sou bom e o povo reclama:

Reclama que não presto,

Que sou um desonesto

E sou contra o protesto...

É essa a sina de quem toma esse rumo!

Cidadãos, cidadãs,

Caiam no meu papo furado

Sem saber que sou bom vivã;

Votem em mim, votem errado!

A verdade sempre escapole

E nunca consigo encontrar;

Mesmo que isso não me incomode,

Caso ache, não tente avisar.

É todo mundo vulnerável,

Papai aqui é quem faz festa!

Pra uns, eu sou abominável;

Pra outros, sou o que ainda:

Que dá injeção na testa,

O que tudo contesta

E nunca se manifesta...

É essa a praga de um político afável!

Cidadãs, cidadãos,

Trabalhem por noite e dia

Que Deus dará todas as bênçãos,

Enquanto ajo com covardia.

Dentre as coisas que eu falo

Resta um por cento de verdade;

Não faço aqui e ali desfaço,

Sem sequer haver seriedade.

É todo mundo abestalhado,

Papai aqui é cheio da grana!

Levo vocês no peneirado,

Repare a pinta do bacana:

Aquele que te engana,

Que põe a maior banca,

Vive sem primeira-dama...

É esse o desgosto de ser candidato!

Meu povo, minha “pova”,

Elejam-me mais uma vez;

Dizem que sou ruim, sou uma ova!

Boca-de-urna, eu sou freguês.

A cada pobrezinho coitado,

Os que não tem onde cair morto,

Dou-lhes uns três, quatro trocados...

Faço de todo mundo bobo.

É todo mundo sem consenso,

Papai aqui é o sabido!

Rio, roubo e não me rendo;

Tudo pra não ser percebido:

Que sou um pervertido,

Tão bamba que me arrisco

Até em precipício...

É esse o sexto mandato que tento!

Minha “pova”, meu povo,

Que gosta da democracia,

Votem e me elejam de novo

Enquanto vou ao banho-maria.

Apenas o que me consola

É o fato de venderem voto;

Passam a vida em pés-de-sola

Enquanto brinco e chacoto.

É todo mundo leso,

Papai aqui é quem põe a mão

No dinheiro de quem diz que eu não presto

E me chamam de azarão:

Verdade, eu sou ladrão,

O tal bicho-papão,

Ando sem preocupação...

Se lasquem e sobrevivam dos meus restos!

Se lasquem...

Se lasquem...

Se lasquem

E sobrevivam dos meus restos!

Bento Verissimo
Enviado por Bento Verissimo em 27/05/2009
Código do texto: T1618183
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