Acerto de contas

Pode ficar sossegado,

Ninguém vai perceber;

Só se der muita bandeira

É que vão olhar pra você.

Vou lhe pôr uns disfarces

Ou lhe tirar os que já tem;

Vão pensar que é coisa de artista,

Que você só existe na imaginação.

Não posso julgar os seus atos,

Não devo lhe dar punição;

Não tente, no entanto,

Impedir o meu canto,

Esse é o meu desabafo,

É o jeito que eu tenho

De fazer terapia

E lhe dar o perdão.

Quando eu cantar,

Se você sair, dou adeus,

Se dançar, eu aplaudo,

Tudo bem natural,

Mas se der certo esse canto

E o povo gostar,

Não venha dizer

Que me deu sofrimento e foi tema

Pra eu escrever.

Eu fiz a letra,

Um amigo, a melodia,

Nada é de sua autoria,

Deixe de ser abusado.

A vida ainda lhe ensina:

Alguém vai pisar no seu calo

Ou vai lhe dar muita alegria;

Então, se entender do riscado,

Pode escrever uma letra

Ou entrar com o tom e as notas

Depois uns arranjam e tocam,

Outro canta e apresenta.

E, se acontecer, aí, sim, você é compositor,

Pode até ser consagrado.

Por enquanto, meu caro,

Veja se desconfia,

Você quer viver encostado,

Mas não nasceu pra ser sombra

E ainda não é assombração.

Descubra o que sabe fazer,

Procure um emprego

E vá trabalhar no posto, no bosque,

No circo, no parque ou no espaço;

Tome seu rumo,

Que eu me cansei de você.

Não posso julgar os seus atos,

Não devo lhe dar punição;

Não tente, no entanto,

Impedir o meu canto,

Esse é o meu desabafo,

É o jeito que eu tenho

De fazer terapia

E lhe dar o perdão.

Neusa Storti Guerra Jacintho
Enviado por Neusa Storti Guerra Jacintho em 03/12/2009
Reeditado em 03/12/2009
Código do texto: T1958602
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