DANÇA DA CELA

DANÇA DA CELA

em outros tempos

ser peão foi desafio

ver boiada em vau de rio;

pisar lama e pó na estrada

Encilho o cavalo como antigamente

e toco o berrante matando a saudade

até quando eu nem sei.

A mágoa é tanta, veja minha gente,

surgiu o asfalto que leva à cidade.

É o progresso; essa é a lei.

Batuca no asfalto o casco ferrado

marcando a cadência de uma cantiga

masca o freio o alazão

levanta a cabeça e sopra alarmado

não vê a boiada tão sua amiga;

pura mágoa é o sertão.

O boi fujão

se apartava da boiada

dentro da mata fechada

só se ouvia o tropel

o bom peão

segurando o santo antônio

perseguia o demônio

montado no seu corcel.

A carreta que passa levando seu frete

carrega pro abate a carga sofrida

da boiada do patrão.

O cavalo marchando balança o ginete

que faz na ideia o balanço da vida

soluçando uma canção.

Estou preso no rancho, chorando meus ais,

Pra ganhar o dinheiro que é meu sustento.

Cuido as vacas do patrão.

Tocar a boiada eu não volto mais

A saudade é grande; é puro lamento,

Perdi a fama de peão.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 08/11/2010
Código do texto: T2603534
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