LIRA ARTESANAL - NAVEGANTE - LÂMINA
LIRA ARTESANAL
Na criação
da lira artesanal
moldo a jóia bruta.
Na imaginação,
um gladiador
trava a boa luta.
Meu coração
simula a própria dor
no verso que executa.
e se a canção
soa artificial,
a alma não me escuta.
Meu peito tem um jeito
peregrino,
sentindo o efeito
da dor de outrém.
e se a dor faz parte
do destino
a arte e o amor
bem que me convém.
NAVEGANTE
Quem por seus olhos
navega o verde do mar
e não fica a deriva
nos mares bravios?
quem por seu ardor
não se perde do cais?
Quem como eu
se estende no leito de sol
fluindo nas ondas
revoltas do amor?
Quem em seu leito
naufraga num mar de amplidão?
onde a poesia é o cardume
que o mar traz na transparência
de um fino lençol,
a volúpia do beijo
que suga o luar?
Como desvendar
todos segredos seus?
e quem, como eu, os guardará?
No interior das conchas
deve morar o seu coração.
Será que o mistério
que traga as embarcações
virá dos seus braços
que enlaçam o furor das paixões?
Meu barco é parco e baldio
remando em seus olhos de mar.
E se todo amor tem dores de solidão
também terá prazeres e sensações
que ningém sabe explicar.
mas quem como eu
se perdeu no breu do alto mar
sem leme, sem remo, sem medo
do medo de amar?
LÂMINA
O amor é lâmina que equilibra
depois fere a própria língua
quando sonho é prata
é punhal que cintila seu reverso.
o amor revela
o sobressalto
o ator no palco
de uma cela
O amor é parte das vagas
que a vida sustém na saliva
dum mar convulsivo por dentro.
O amor é lâmina que mutila
e desfere o sol que míngua
quando o sonho é frágil e letal,
só cultiva o adverso.
O amor revela
o sobressalto
o ator no palco
de uma cela
O amor é pétala larga
que a vida mantém efusiva
a flor convulsiva por dentro