TEMPUS BEBADUS

Que tempo é esse, meu senhor,

que se acanha de manhã e de noite descama,

que não tem asa nem casa,

faz a gente cair feito dominó,

feito dominó.

Que tempo é esse, meu feitor,

finge estar dormindo e nos pega de surpresa,

faz a gente virar uma simples presa,

deixa a gente desarmado, desalmado,

com vontado de tudo esquecer,

tudo esquecer.

Que tempo é esse, diga lá,

que parece bêbado mas tem a lucidez de Deus

que nos impregna de medos, de teias, de âncoras,

depois fica calado pra sempre,

ou até nunca mais, nunca mais,

Que tempo é esse, meu amigo,

salpica sal nos nossos olhos sem pena,

faz nossa alma ficar tão pequena

mal cabe num grão de feijão,

vive em decomposição,

decomposição.

Que tempo é esse, estranha criatura

deixa nossa visão tão escura

coloca todos nossos desejos num bueiro frio,

num abafado pio,

eterno cio.

Que tempo é esse, seco e enrugado,

corta o peito com afiado machado

fazendo sangrar até se cansar,

até se casar.

Que tempo é esse, se sei não digo

parece tão amigo, tão antigo,

nunca vamos ver de verdade,

leva longe a nossa mocidade,

faz a gente estilingar os sonhos pra longe

faz o que temos de mais forte virar monge,

e morrer banguelo numa viela qualquer.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/06/2011
Reeditado em 21/06/2011
Código do texto: T3048213
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