Alguém para conversar
Meu senhor eu preciso da sua atenção, estou aqui deitado, e muito cansado me dá sua mão, e me empresta o teu ouvido, pois quero te confessar uma coisa sobre minha vida
Alguém me deixou aqui sentado e me disse que já voltava e nunca mais apareceu
Já faz tanto tempo que eu nem sei mais quantos anos eu estou aqui
Nem minha idade eu me lembro mais, as minhas pernas já estão tão fracas, que preciso da bengala para me levantar
É meu senhor, o que eu não esperava aconteceu,
Fui esquecido pelo tempo, fui deixado para trás,
Como livros velhos em uma caixa de papelão
No meu tempo de moço, a gente tinha amigos e muito dinheiro no bolso
Os dias passaram, e como a história da “formiga e o gafanhoto”,
Fui deixado aqui ao relento sem beira nem eira...
Te confesso nessa hora, que eu não tenho medo da velhice chegando,
Só de envelhecer aqui sozinho
Não tenho vergonha da minha pele enrugada nem de minha barriga crescendo, só de continuar adoecendo e piorar sem ninguém para me ver
Não tenho vergonha dos meus cabelos brancos aparecendo
Só deles caindo, pelo ralo do banheiro
Minha vaidade, talvez seja a única coisa que me restou dessa pobre vida
Não tenho mais meus dentes, porque o tempo já se encarregou de arrancá-los, nem paladar eu sinto mais...
Não tenho medo do tempo correndo, só das horas passando sem nada para fazer
Não gosto de ter a casa cheia, mas não quero passar o resto da vida nela desamparado
Por isso, só te peço senhor com amor, não me deixa mais sofrer, me dá sua atenção, e me dá sua mão, pois é tão bom ter alguém para conversar