INDIGENTE
Numa bela noite
Encontrei algumas coisas velhas
Jogadas no chão
Olhei no espelho
Um semblante sorridente
Dizia que eu sairia dali
Então peguei meus poemas
Uma muda de roupas
Uma escova de dente
E outras peripécias de amor
Meu apelido ficou pelo meio do caminho
Agora eu não sou mais o destemido,
Minha casa não existe
Minha mãe se foi
Meus amigos... se foram
Ando por estradas
Procuro por notícias,
Numa banca de revistas
Eu procuro emprego
N’outra mão não tenho nada
Pois acabei foi de nascer
A fome me aperta
Mas ninguém me vê
Eu não tenho dinheiro
Pra podê cumê
As pessoas passam ao lado
Mas o tempo é mais rápido que nós
Meu apelido retornou no meio do caminho
Agora eu sou ainda mais temível
Minha barba já cresceu
Minha roupa já rasgou
Eu não tenho mais lugar
Aquela ponte ali virou o meu abrigo
Agora eu sou mais um perdido
Mas ninguém quer saber
Ninguém...
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Extraído do 17º disco de composições de Tiago Henrique: Desligado (2008)