CILADAS.

As ciladas são pontadas certeiras, farpadas,

tantas vezes rasteiras, ingratas,

divas mal comidas nos nossos sertões.

Elas têm rosto, corpo, cheiro, endereço,

se remexem feito lagartas em pleno cio,

são escravas fiéis da Corte, se amontoam pra saber mais de tudo,

fazem tricô enquanto seus dentes esmigalham todos os nossos sonhos.

As ciladas sabem reverter os ventos, sabem decantar cada vagina ungida,

são tentadas à revelia, julgadas na jugular feito reféns alucinadas,

são rainhas que nunca saberão onde fica seu trono, ou sua coroa.

Quando avistam suas vítimas de longe, lá do alto feito abutres,

esquecem suas almas, seus cabrestos, seus encantos, seus quebrantos de Oxum,

e mergulham num rastro cego até jugularem os acordes aflitos

nessa nossa rumba chocha e enxarcada de suor barato e seco.

As ciladas são névoas reais e fictícias da fé,

enquanto refogam cada bengala desta apoteótica teta,

se regojizam de cada lágrima desagelmada que houver,

que couber, que vier, que quiser.

Então, meio bêbada, meio santa, meio cuspida,

sairá desta calada janela que um dia nos fez fértil

para, por certo, dormir em paz.

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