DESDE AQUELA NOITE

O espelho da casa não reflete o seu rosto

Apesar das roupas passadas, te aguardar.

Desde aquela longa noite...

Quando te convidaram pra passear.

Pelo jardim do medo

Pela praça da cor

Pelo parque do sangue

E pelo campo da dor.

Desde então, o velho galpão está vazio

E um grito insiste nas lembranças

De um tempo que insiste em voltar

Pra dizer que 68 não acabou nas andanças...

Do profeta Vandré

Que antecipou o canto futuro

Em nome dos companheiros de ontem

Que hoje se sentam confortados em seus muros

Comendo a serragem do velho quartel

Onde o silencio ecoa na letra da velha canção

Que traz um poeta que lamenta ao vento

O tormento sem rosto do não...

Aos que esperam,

Sentados à mesa do jantar

A hora em que o reflexo do espelho

Livre da baioneta do medo, simplesmente voltar.