FAÍSCAS DE LAMPIÃO
Tava traçado o destino,
Nos olhos de Virgulino, faíscas de Lampião.
A gente se trata na ponta da faca,
Fazendo rabiscos de fogo no chão.
Tremendo a terra com raio, trovão;
Coriscos de luz no fim da alvorada.
Aimoré da noite e da madrugada;
Ele vem de faca, eu vou de facão.
Maria Bonita ilumina o clarão.
É dia de festa aqui no terreiro.
Te peço teu nome, me mostre ligeiro:
- Capitão Virgulino, vulgo Lampião
A volante é valente, arretada na luta;
Marcando colado no calço do chão.
É peste nas terras aqui do sertão,
Mas nossa batalha é a vencer a labuta,
Esconder nossa prata em alguma gruta,
Tramar feito aço mais uma invasão.
É peixe que briga, ferro do zangão;
É brilho de faca, reluzente lança.
Pelos quatro ventos às feras avança.
Capitão Virgulino, vulgo Lampião
Destino traçado de cabra da peste,
Varando as caatingas de punhal na mão.
Na encruzilhada é assombração,
É a morte seca que vela nas sombras.
Da chuva a enchente; da pinga a lombra;
Sendo ventania que trás turbilhão.
Nesse rebuliço no alto um vulcão.
A onça pintada roncando na noite.
Do beijo da morte, frio do açoite.
Capitão Virgulino, vulgo Lampião
Alvorada é a aurora na pista da luta,
No risco da vida, corte de punhal,
Faz do apocalipse apenas jogral;
Amado e temido, santo e demônio...
E com violência contrai matrimônio,
Mas lamento a sorte dessa união.
Nas mãos da volante arrastou-se no chão
Destino certeiro de sorte malvada
E como troféu a cabeça cortada
Capitão Virgulino, vulgo Lampião