Canção de Amor em Ritmo de Blues, Interpretada por Renan Gonçalves Flores e Uma Pessoa Apaixonada

Num bar estão duas pessoas conversando à mesa. De um lado, uma pessoa apaixonada, e do outro, Renan. Ambos estão bêbados. O apaixonado não para de falar de amor. Renan sequer presta atenção. Até que seu whiskey acaba. Pede mais uma dose ao atendente. Ele demora. O apaixonado continua falando das belezas do amor. A irritação consome Renan. A bebida não chega. A isto somam-se sua predisposição à violência os efeitos da embriaguez causados por um whiskey barato, sem gelo e com gosto de plástico. Dá um murro na mesa e manda o apaixonado calar a boca. O apaixonado retruca:

Como pode

Um sentimento

Tão puro

Ser tratado

Dessa forma

Assim tão duro?

Bem, eu vou te dizer uma só vez

Vê se não esquece

Porque o amor em que crês

Não é tudo isso que parece

Como não?

Como podes

Dizer tamanho insulto

"É só o amor,

E é só o amor"

Como cantava Renato Russo

Longe de criticar o compositor

Mas já vi muito disso

Rimar amor com dor

Só pra vender mais discos

E os poetas?

Shakespeare, Drummond

Viam eles o mal?

Não foi por amor

Que Shahjehan

Ergueu o Taj Mahal?

Que foi erguido à sua esposa preferida

Mas de mulher ele nunca ficou sem

Foi-se ao paraíso sua mais querida

Mas na terra ficou seu harém

Não entendo

Sinceramente

Desprezível

Como pode alguém

Ser tão frio

E insensível?

Respeito sua visão de mundo perfeito

Ama teu vizinho como a ti mesmo, diz o ditado

Não o desprezo tampouco o desmereço

Mas a verdade é que esse papo me enche o saco

Só pensa assim

Porque nunca amou

É a verdade

Arrogante e orgulhoso

E neste teu coração

Só existe maldade

Essa tua boca doce e ímpia

Que fala de um amor transviado

Não morda a própria língua

Ou vai morrer envenenado!

O que procuras, em verdade

Não é alguém que o ame, mas que o obedeça

E enquanto nina o sono da felicidade

Lhes crescem os chifres na cabeça!

Gostaria mesmo de sentir o amor

Amor a perder de vista

Mas não pode existir amor

Num mundo tão egoísta

Na sua frente todos o evitam

Todos se calam e se tornam mudos

Mas quando virar as costas gritam:

"Olha! Lá vai o cornudo!"

Bah!

Estou cansado dessa coisa de amor

Já conheço todos os truques dele

Mas acho engraçado

Que os que mais falam de amor

São os que menos sabem sobre ele

Mais tarde a polícia chega. Algemam uma pessoa e colocam na viatura. Estirado no chão do bar, com um corte no pescoço, está Renan. Morto. Ao lado dele, desenhado com seu próprio sangue, está um grande coração vermelho, e dentro dele está escrito: "O amor vencerá".

Trinta de março de dois mil e quatorze.

Renan Gonçalves Flores
Enviado por Renan Gonçalves Flores em 30/03/2014
Reeditado em 30/03/2014
Código do texto: T4750004
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