Canção do Amor Perdido

Há pouco se viu um cão amedrontado

E a brasa de um cigarro

Beijando a parede da prisão.

Há pouco uma mocinha na janela

Entoou a mágoa toda, toda para o chão,

E o rapazinho, como o coração apertado,

Apanhou todas as juras do passado com a mão;

Guardou-as no bolso furado

E foi apressado prá estação.

Partiu voltando o rosto mas não viu

Mais a menina linda de então.

Foi mais de meio-dia: a cozinheira limpou

Parte da fome que ficara no fogão.

E no quarto a beata sacudia dos cabides o cansaço

Da noite de festa a Nossa Senhora da Conceição.

Logo mais um anjo malvado deixou o céu na escuridão.

A mocinha fechou suas janelas,

Levando um tiro da solidão.

E aquele rapazinho casou

Em festa de São João.

A beata abandonou a fé,

Caindo na perdição.

E cozinheira coitada cansou

De tudo isso e mudou de profissão.

Tom Lazarus
Enviado por Tom Lazarus em 22/05/2007
Código do texto: T497194
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.