Canção do Amor Perdido
Há pouco se viu um cão amedrontado
E a brasa de um cigarro
Beijando a parede da prisão.
Há pouco uma mocinha na janela
Entoou a mágoa toda, toda para o chão,
E o rapazinho, como o coração apertado,
Apanhou todas as juras do passado com a mão;
Guardou-as no bolso furado
E foi apressado prá estação.
Partiu voltando o rosto mas não viu
Mais a menina linda de então.
Foi mais de meio-dia: a cozinheira limpou
Parte da fome que ficara no fogão.
E no quarto a beata sacudia dos cabides o cansaço
Da noite de festa a Nossa Senhora da Conceição.
Logo mais um anjo malvado deixou o céu na escuridão.
A mocinha fechou suas janelas,
Levando um tiro da solidão.
E aquele rapazinho casou
Em festa de São João.
A beata abandonou a fé,
Caindo na perdição.
E cozinheira coitada cansou
De tudo isso e mudou de profissão.