Cândido Portinari, "Retirantes", Óleo s/ tela, 1944
BREJO DA CRUZ
http://youtu.be/lluLyqheTu0
Chico Buarque - Brejo da Cruz
Análise da letra "Brejo da Cruz" de Chico Buarque:
A música Brejo da Cruz foi lançado em 1984 no disco que além dessa música tinha também: Pelas tabelas, Vai passar, Tantas palavras, samba do Grande amor.
O nome da música foi inspirada no município onde nasceu Zé Ramalho, Brejo dO Cruz/PB.
Vamos dar uma lida na letra?
A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz
Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz
Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil
Uns vendem fumo
Tem uns que viram Jesus
Muito sanfoneiro
Cego tocando blues
Uns têm saudade
E dançam maracatus
Uns atiram pedra
Outros passeiam nus
Mas há milhões desses seres
Que se disfarçam tão bem
Que ninguém pergunta
De onde essa gente vem
São jardineiros
Guardas-noturnos, casais
São passageiros
Bombeiros e babás
Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz
São faxineiros
Balançam nas construções
São bilheteiras
Baleiros e garçons
Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz
A letra é uma critica social a condição de miséria e fome que vivem muitas crianças brasileiras. È curioso como um país que tem tantas ambições e que nossos governantes vivem afirmando que houve um salto na qualidade de vida essa letra ainda nos pareça tão atual.
Os versos foram dispostos em quadras o que me parece remeter a típica poesia repentista. Existem rimas bem interessantes como por exemplo: Jesus com Blues, Azuis com Luz, casais com babás.
O autor descreve a miséria que assola milhares de crianças e que na falta de condições o único alimento que elas têm é a esperança:
“A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz”
Descreve também o lado obscuro dessa miséria onde muitas crianças acabam optando pelo uso das drogas para amenizar a falta de perspectiva:
“Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz”
A outra opção que muitas dessas crianças tem é a migração, ou seja, abandonar a terra onde nasceram em busca da sonhada esperança:
“Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil”
Em outro grande momento da letra o autor nos fala sobre a indiferença da sociedade com esse problema social:
“Mas há milhões desses seres
Que se disfarçam tão bem
Que ninguém pergunta
De onde essa gente vem”
Outro detalhe interessante é a metamorfose da miséria com o uso de personagens que representam o sofrimento tais como: “Jesus”, “o sanfoneiro”. Nessa metamorfose que vai ocorrendo durante a letra onde aqueles que sobreviveram à miséria começam a criar uma nova vida:
“São faxineiros
Balançam nas construções
São bilheteiras
Baleiros e garçons”
Num país rodeado pela miséria e que numa sociedade urbana onde quase todos têm parentes que vieram de outros lugares à procura de uma vida melhor, o autor observa que mesmo os migrantes se esquecem de suas raízes e sua história e que portanto somos todos culpados pelo sofrimento dessas crianças:
“Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz”
Fonte:
https://www.facebook.com/ProfessordeContrabaixo/posts/373620519352424