O MENINO DA RUA TRÊS DE AGOSTO

São dias cinzas

Como o cinza dos belos grisalhos

São espantosos

Como os estilosos espantalhos

Não quero quebrar galhos

Nem ficar em frangalhos

Você é rei, é o senhor

Dos próprios atos falhos.

Ninguém se lembra do menino

Que não tem um rosto

Que passa assustado

Em frente à rua Três de agosto.

Que não tem sombra não

Que mora em um porão

Que não tem pai, nem mãe

Amigos, que não tem irmão.

Quem nunca ouviu falar

Da história de uma andorinha

Que já não é capaz de fazer

Um verão sozinha

Poderá entender

O que vivo a sofrer

Não sei o que é ganhar

Mas sou campeão em perder.

Quem não se lembra do menino

Que não tinha nome

Que não sentia frio, sede

Dor, saudade ou fome.

Que dorme onde der

Que venha o que vier

A vida não é fácil

Pra quem não sabe o que quer.

Quem não se lembra do menino

Morto na calçada

Que era um anjo

E que nunca reclamou de nada

Ele não tinha nome

Não tinha certidão

Era um ninguém

Qualquer talvez

Se chamasse João.

Quem não se lembra do menino...

Ninguém lembra mesmo...

Sua alma se perdeu no mundo

E agora segue a esmo...

Weverthon Siqueira
Enviado por Weverthon Siqueira em 23/12/2014
Reeditado em 03/04/2023
Código do texto: T5078512
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