Vinco (A flauta doce)

Não vejo a hora não vejo o dia

De arrasar com esta vida tão vazia

Que me deforma que me vicia

Que me desfia e recompõe qual não devia

E no entanto me custa tanto

Estou dobrado estou vincado é já quebranto

E do meu canto só me levanto

Pra copiar o que me rói e agasta tanto

E parece a dor de ter o sal em carne viva

Que o sol ardente não perdoa reativa

Eu não poder levar a nau por onde quero

Pra meu desgoverno me tornei judeu errante

Que não consegue sair de onde estava antes

Eu esperneio eu sapateio eu desespero

E em cada esquina gente imagina

Que há de topar com o sol do forte o veio a mina

A tal mulher a joia a rima

A flauta doce com que a gente se afina

Não vejo a hora não vejo o dia

Que há de romper essa manhã essa anistia

Mudar de pele mudar de via

Viver no avesso outro começo é o que eu queria

E parece a dor de ter o sal em carne viva ...

(Pitangui, MG, 1970)

William Santiago e Reinaldo Rohr
Enviado por William Santiago em 08/01/2016
Reeditado em 08/01/2016
Código do texto: T5504172
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