CURIOSIDADES SOBRE A VIDA E A OBRA MUSICAL DE RAUL SEIXAS (6)

A canção Ouro de Tolo, de 1973, letra e música composta unicamente por Raul Seixas, passou por uma pequena alteração ao ser gravada definitivamente para o álbum Krig há, Bandolo!, seu primeiro disco de sucesso. Lançada originalmente em compacto, no final da segunda estrofe ele citava no verso um tal "carrão 73". Depois, preferiu utilizar "Corcel 73", mesmo correndo o risco de fazer merchandising gratuito do automóvel.

Vejam abaixo como era a estrofe original e como ficou depois.

OURO DE TOLO (Raul Seixas)

Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou um dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros por mês.

Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar um "CARRÃO 73".

...............................................................................................

Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou um dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros por mês.

Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar um "CORCEL 73".

Eu devia estar alegre e satisfeito

Por morar em Ipanema

Depois de ter passado fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa.

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa.

Eu devia estar contente

Por ter conseguido tudo o que eu quis

Mas confesso abestalhado

Que eu estou decepcionado.

Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto: E daí?

Eu tenho uma porção de coisas grandes

Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado.

Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o domingo

Pra ir com a família ao Jardim Zoológico

Dar pipoca aos macacos.

Ah! Mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

Macaco praia, carro, jornal, tobogã

Eu acho tudo isso um saco.

É você olhar no espelho

Se sentir um grandessíssimo idiota

Saber que é humano, ridículo, limitado

Que só usa dez por cento de sua

Cabeça animal.

E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial

Que está contribuindo com sua parte

Para nosso belo quadro social.

Eu que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada cheia de dentes

Esperando a morte chegar.

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais,

No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora de um disco voador .

Ah, eu que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada cheia de dentes

Esperando a morte chegar.

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais,

No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora de um disco voador.