A céu aberto

É lama de esgoto, filho

e está correndo a céu aberto

Manchando a estrelas da bandeira

Pátria amada, idolatrada, salve salve

Salve-se quem puder na trincheira do desespero

Todo mundo atirando pra todo lado

Nem se olham no espelho

Já tiraram o ouro, a mata

Agora é matar quem se desgraça

Nas máquinas, nas valas, vias, veias, nas baixadas

E quem não vê com olho vesgo sabe bem

Que ali naquele covil não se salva ninguém

Vão construindo seus castelos com o sangue e o suor

Daqueles que nada tem

E tem que dividir sua pouca vida com quem lhe tem desdém

Não é mais fácil escavar o chão em busca da cova

Mas os que sofrem as agruras perpetradas nesse ninho de cobras

Sabem mais que ninguém que a justiça verdadeira não marca hora

Logo logo ela chega entrando num portal de tempo, por outra dobra

E vai zoar quem fez que não viu e tocou sua obra

e até quem viu tudo e construiu tudo e fez suas manobras

É na taça de cicuta que o homem fraco não se garante,

e mostra o que no esgoto tem de sobra

E usam togas e gravatas em suas cortes

E seus jargões estão eivados do que é podre

E se corrompem sem nenhuma cerimônia

Num lugar que o que era bom já não existe, acabou-se