ECOA SOLIDÃO

ECOA SOLIDÃO

Natal sem confraternização, com os seus, gela.

Pode encher a mesa de tudo bom, falta aquilo.

Beijos queridos, abraços desejados, festa revela.

Chegada do amigo oculto, para então deferi-lo.

Mesmo duplicado, complicado, ignora tal ritual.

Parte ao meio seio da ceia, reza o terço errado.

No quarto, solidão agiganta, ecoa grilo do quintal.

Sexto sentido anulado, tão cético quanto quadrado.

Celebrante viola, uma oitava abaixo, bem tocada.

Nona sinfonia, acústica, recheio de damasco assado.

Nada igual a papai e mamãe, tirando aquela unhada.

Desce molhando a escada, com choro desenfreado.

Ausência sentida mais forte que presença constante.

Presente recorre ao passado preparando o futuro.

Esquece os pássaros na gaiola para ver voo rasante.

Queixa que deixa em orbita, no vácuo mais escuro.