Chimarrão de um peão solito

O sol passou e vai ao tranco se sumindo

se estende um poncho preto sobre o meu rincão

é a negra noite que outra vez vem chegando

e está na hora de tomar meu chimarrão,

no guarda-fogo de pau-ferro que está vivo

encosto a lenha e logo se forma o braseiro

cevo meu mate tendo aos pés um cusco amigo

que lá na estância é de confiança e companheiro.

Roncando a cuia encho outro pra mim mesmo

sem ter ninguém pra dividir esse momento

enquanto sigo remoendo meus velhos planos

no universo galopa meu pensamento

eu imagino minha prenda aqui no meu lado

mas sei que isso está longe da realidade

na erva boa eu vejo o verde da esperança

e ao mesmo tempo sinto o amargo da saudade.

Essa saudade faz de mim um homem triste

é caborteira e insiste em me visitar

nasceu no dia que minha chinoca linda

se foi embora e prometeu não mais voltar

deixou pra mim só a malvada saudade

que foi chegando e se acampando de carancho

tirou o brilho que havia em meu viver

deixou cinzenta minha vida e o meu rancho.

Talvez um dia isso tudo possa mudar

e outra prenda queira viver para mim

mas se for falsa não cruze o meu caminho

prefiro eu, viver sozinho até o fim

então eu namoro as mais belas das estrelas

que me negaceiam do caminho do infinito

sou um campeiro e tenho o direito de sonhar

enquanto sorvo o chimarrão de um peão solito.