E QUEM SERÁ QUE SERÁ?

(Peço desculpas a Chico Buarque - e por tabela, a Francis Himme, Milton Nascimento e Simone - pela ousadia e, talvez, até, blasfêmia de fazer uma paródia para "O que será que será?", mas, os tempos de quarentena pedem válvulas de escape. Leiam como se estivessem seguindo a original...)

E QUEM SERÁ QUE SERÁ?

E quem será que será

Que anda suspirando na escrivaninha

Que anda com insônia diante da mesa

Que anda embaralhado com o note book

Que anda a sentir dores no corpo inteiro

Que anda angustiado, tantos receios

Que anda enervado feito guerreiros

Que grita no espelho mil impropérios

Está angustiado, quem será que será

Que já não tem certeza, nem nunca terá

Que já não tem leveza, nunca mais terá

Vive sendo invadido

E quem será que será

Que vive reunindo no Google Meet

Que vive atrasado no Google Class

Que vive atarefado no Google Forms

Que vive embriagado de tutoriais

Que vive a cada dia um inferno astral

Que vive emparedado dentro de casa

Que vive renegando a própria família

Não tem privacidade, nem nunca terá

E que não tem mais tempo, nem nunca terá

Nem mesmo a madrugada, nunca mais terá

Nem no fim de semana

E quem será que será

Que está enraivecido com o presidente

Que vive em pesadelos, de madrugada

Pensando em demissões e perdas de aulas

Porque todos os dias mais más notícias

Porque todas as horas são agourentas

E todos os destinos são desalentos

E toda a fé caminha em corda bamba

Olhando o desemprego e a carestia

Olhando o desgoverno deste genocida

O que não tem vergonha, nem nunca terá

O que não tem caráter, nem nunca terá

O que não tem escrúpulos, nem nunca terá

E, nós, não teremos juízo...