OLHOS DE LUAR

Tião era um mulato forte, alegre e destemido

Nasceu do amor feito na terra em meio à plantação

Pegava no cabo da enxada e campeava o gado

Tristeza era coisa que não se via do seu lado

Depois da roça ia pra venda, um copo de cachaça

Cantava, tocava viola e fazia graça

O peito largo, o riso claro, amigo dos amigos

Não tinha medo de ninguém, zombava dos perigos

Um dia ele sentiu no rosto

Os olhos de luar da filha do patrão

E um doce amargo alegre e triste entrou no coração

Tião não era mais o mesmo

Desde que sentiu o brilho desse olhar

Sentiu pela primeira vez vontade de chorar

Mas o feitiço do olhar entrou feito veneno

O olhar da filha do patrão no seu corpo moreno

Ah! Esse olhar tinha mais luz que o sol do meio-dia

A tentação era mais forte, ele não resistia

Um dia ela chegou mais perto, um raio de esperança

Um homem quando ama fica assim meio criança

E ele então falou de tudo aquilo que sentia

Pediu desculpas por amar assim quem não devia

E uma lágrima rolou dos olhos de luar da filha do patrão

Seu rosto branco avermelhou na força da paixão

Então o céu chegou na terra

Quando o amor existe fica tudo igual

E o amor aconteceu no meio do canavial

Mas o orgulho do patrão ainda era mais forte

A honra se lava com sangue, uma jura de morte

O fruto desse amor não pode ver a luz do dia

À noite o som de um tiro e um corpo cai na terra fria

Mas tudo que aqui se faz, aqui também se paga

A mancha do sangue na terra nunca mais se apaga

Por sete anos nada mais nasceu naquele chão

E a noite escureceu de vez os olhos do patrão

Mas quando é noite de luar

Tem gente que já viu em meio à plantação

Um negro levando um menino louro pela mão

Os dois correndo pelo campo

Vão deixando um rastro de luz sem igual

Um rastro de um amor no meio do canavial

Um rastro de um amor no meio do canavial

Chrystian & Ralf
Enviado por Carlos Ferraz em 12/02/2021
Código do texto: T7182846
Classificação de conteúdo: seguro