Um trago por dia

"

A rua tão cheia de carros

Cigarros sujando as esquinas

O relógio no meio dos fracos

Se perde na hora que anuncia

São seis ou sete pedaços

De tempo que me consumia 
E Tá só começando...

Hoje é só mais um dia

Quantos abismos me cabem?

Com tantas saudades vazias

São curtos os cortes, mas ardem

São gritos de certa agonia

E tudo se avista turvo

Um sopro vira ventania

Meus olhos se perdem no escuro

Minha velha mãe clamando: Ave Maria

Ando sofrendo muito

Por dores pequenas

Ando sentindo muito

Faltas menores

Troca de olhares

Sorrisos completos

Sorte de quem se esquiva

Fé, que vem dias melhores

Já esqueci os sabores do beijo

Reconheci que lhe falta desejo

Me lembro tão pouco de algumas risadas

Goles de amor com sabor de cevade

Era quase loucura ou, quase nada

Era tudo na vida

Longas madrugadas

Vontades perdidas

Em guias, calçadas

Ahhhhh as ruas de São Paulo

Frias esquinas

Duros asfaltos

Ahhhhh as ruas de São Paulo

Giz nas esquinas

Postos de gasolina

Banheiros, seus confessionários

Um amor de acaso

Tão raso quanto a euforia

De um menino jovem

De quarenta idades

De quarenta mil argumentos

Sem a menor valia

Um trago na alma

Me salvo por hoje

E hoje, é só mais um dia

A rua tão cheia de carros

Cigarros sujando as esquinas

Já passou de três

São quase quatro

Tá só começando

E hoje é só

Hoje é só mais um dia

"