SOLIDÕES

A solidão é uma cidade abandonada

É uma carroça numa estrada que vai dar na escuridão

É a feiura da mulher toda arrumada

Passeando na calçada sem ninguém dar atenção

A solidão é como um pássaro ferido

Que voou, mas está perdido, sem saber a direção

É como mão sem outra mão para bater palma

Como um Deus que perde a calma se ninguém pedir perdão

A solidão é como um nome que se esquece

Como um homem que envelhece, sem viver o que sonhou

É como um trânsito em plena madrugada

É o poeta na calçada que ninguém nunca escutou

A solidão é uma atriz, sem a plateia

É abelha sem colmeia, é barco à vela no sertão

É a promessa do político sem ética

É a conta aritmética em que o zero é a solução

A solidão é uma bola sem chuteira

É a vizinha fofoqueira, sem vizinhos no portão

A solidão é o rebolado da mulata

Quando a festa já tá chata e ninguém quer mais sambar, não

A solidão é quando o tempo vai embora

Quando a gente perde a hora e o compasso da canção

A solidão é quando o filme fica bobo

Quando a gente perde jogo, porque alguém fez gol de mão

Oswaldo Montenegro
Enviado por Wilson Madrid em 24/01/2023
Código do texto: T7702999
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