Aquele rapaz promissor

Ao encontrar-me perdido num chão,

Como um rato rasgando a seda

Que antes cobria um corpo humano,

Sinto na alma, de antemão,

O vazio da alameda

Povoada somente pelo meu engano.

Aquele rapaz promissor morreu

E suas cinzas preenchem minha sombra.

Apesar de parelhos, não sou eu,

Mas uma lembrança que ainda me assombra.

Dormir e acordar sem saber o que sou

É um tornado em minha cabeça,

São as brechas do cotidiano.

Saber que pouco ou nada restou

Daquelas velhas certezas,

Um processo kafkiano.

Aquele rapaz promissor morreu

E suas cinzas preenchem minha sombra.

Apesar de parelhos, não sou eu,

Mas uma lembrança que ainda me assombra.

Os medos que o tempo forneceu

A morte de tudo o que é bom

O amor que, simplesmente, feneceu

Os ruídos que se tornaram sons.

As chuvas que corroem a pele,

A calma de quem perdeu a esperança,

Partir sem ninguém que o vele,

A falta de pares para a dança.

Afogar-se no próprio ar,

Encontrar o erro em existir,

Refugiar-se em sonhos e deitar

Esperando um dia jamais sentir

Aquele rapaz promissor...

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 07/09/2023
Reeditado em 07/09/2023
Código do texto: T7880091
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