O que é significado

Falar de significado não é fácil, pois o significado não é algo que possamos observar diretamente. Algumas teorias afirmam que o significado é uma entidade (coisa). Outros asseveram que é uma ideia, um conceito tal como Saussure afirma; que o significado é a face do signo linguístico que corresponde ao conceito; conteúdo, uma representação mental.

A primeira teoria nos diz que o significado é uma entidade. Isto é afirmar que é um ‘’objeto’’ um automóvel por exemplo. Se pensarmos em carro, teremos um referencial no mundo, vemos carros transitando o tempo todo pelas ruas; também se evoca diferentes tipos de imagens de carros na mente de cada um de nós. Mas, se pensarmos em amor o mesmo não acontece, e as imagens evocadas na mente de cada um de nós serão bastante subjetivas, porque amor não tem referencial no mundo, pois se trata do sentimento que temos por determinadas pessoas. Ao pensarmos em amor, podemos pensar em uma pessoa que amamos, mas tal pessoa não é a representação do amor no mundo. Então esta teoria logo já encontra problemas para continuar sendo válida. O significado não tem forma física e não está pairando entre as palavras e as coisas das quais estamos falando, ao menos não fisicamente. Este caráter não físico do significado é um grande problema para as abordagens que querem trata-lo como entidade, o mesmo vale para teorias que tratam o significado como conceito ou ideia que reside na mente, pois não dariam conta de explicar tudo, tal como conjunções, preposições, artigos etc. Que tipos de conceitos seriam eles? Conclui-se então que, embora sejam teorias sérias a respeito do assunto, são teorias ainda incompletas. Os significados se manifestam de diversas formas. O que torna difícil estabelecer um padrão para o mesmo. Vejamos a seguir alguns tipos de significado.

Significado e mundo externo

Está ligado à expressão linguística e o mundo externo, ou seja, aquilo que é expresso através de palavras e que se refere a alguma coisa no mundo, que corresponda ao real. Basicamente quando se fala de algo no mundo externo, está-se estabelecendo uma correspondência entre o que se fala e a realidade.

Mas, será que tudo que se fala sobre o real está pragmaticamente de acordo?

Vejamos o exemplo.

Consideremos o seguinte enunciado: ‘’A água da torneira é limpa’’ é uma afirmação bem simples para todos nós, porque estamos acostumados com a água limpa da torneira. Todavia, esta sentença somente será verdadeira se de fato a água estiver limpa, caso contrário, a sentença é falsa. Para que seja verdadeira, necessita de condições que corroborem para que seja de fato limpa. A água potável que chega as nossas caixas-d’água é tratada antes de ser enviada, portanto é considerada limpa, mas se a caixa-d’água estiver suja, ela vai contaminar a água com sua sujeira, tornando esta sentença falsa, pois a água que sair pela torneira não será de fato limpa. Porém, se a água tratada (limpa) chega a sua caixa-d’água que também está limpa e passa pelos canos limpos e sai pela torneira limpa, a sentença é verdadeira, porque todas as condições corroboram para que ela de fato esteja limpa. Também há situações em que não podemos confirmar a veracidade da informação. Tal como dizer quantos peixes há em uma grande lagoa. Tal afirmação somente seria verdadeira ou falsa mediante uma verificação, porém, tal verificação é praticamente impossível. Este tipo de significado (significado e mundo externo) lida com a veracidade do que está sendo afirmado em relação a um fato ou condição de alguma coisa no mundo real. Como foi dito anteriormente, necessitam estar em concordância total para que seja uma afirmação verdadeira.

Significado e uso (pragmática)

Este tipo significado está muito ligado ao contexto social, estando dependente do contexto e das condições do uso da língua. Em questão de comunicação, a conversação é onde mais ocorrem inferências no ato da fala. As pessoas fazem isso o tempo todo, porque na maioria das vezes compartilham do mesmo conhecimento, tanto o falante quanto o ouvinte. Se alguém diz: ‘’este mês estou falido’’ entende-se que o falante está passando por problemas financeiros naquele mês, mas, também infere-se que se trata de um exagero. Outro exemplo é quando o significado depende do contexto imediato da fala em uma determinada situação, que também pode ser um mal entendido. Esta piada a seguir ilustra muito bem tal situação. Vejamos:

O Diabo e Deus dividindo almas

Em uma cidadezinha do interior havia uma figueira carregada dentro do cemitério. Dois amigos decidiram entrar lá durante a noite (quando não havia vigilância) e pegar todos os figos.

Eles pularam o muro, subiram a árvore com as sacolas penduradas no ombro e começaram a distribuir os figos.

- Um para mim, um para você.

- Um para mim, um para você.

- Você deixou dois caírem do lado de fora do muro!

- Não faz mal, depois que terminarmos aqui nós pegamos os outros.

- Então está bem. Bom, mais um pra mim, um pra você. Um bêbado passando do lado de fora do cemitério, escutou esse negócio de "um pra mim e um pra você" e saiu correndo para a delegacia.

Chegando lá disse ao policial:

- Seu guarda, vem comigo! Deus e o diabo estão no cemitério dividindo as almas dos mortos!

- Ah! Cala a boca! Bêbado!

-Juro que é verdade, vem comigo.

Os dois foram até o cemitério, chegaram perto do muro e começaram a escutar.

- Um para mim, um para você.

- Um para mim, um para você.

O guarda assustado disse:

- Ah! Verdade! Então é o dia do apocalipse! Eles estão dividindo as almas dos mortos! O que será que vem depois?

-Um para mim, um para você. Pronto, acabamos

aqui. E agora?

- Agora vamos lá fora e pegar os dois que estão do outro lado do muro...

- Cooooorreeeee! Agora somos nós.

Quando foi dito no texto: ‘’Agora vamos lá fora e pegar os dois que estão do outro lado do muro’’ os amigos se referiam aos figos, porém, o cidadão bêbado, já havia inserido outro contexto para o policial, porque teve uma inferência totalmente errônea daquilo que estava acontecendo, resultando deste grande mal entendido. Mas somente nesta situação este enunciado poderia ser entendido desta forma pelo policial e pelo cidadão bêbado.

Como vimos, Poucas palavras podem remeter pessoas a um banco de dados interno que torna a informação mais complexa, porém, o contexto do que se fala naquele momento, determina quais informações devem ser acessadas para que a conversa ou situação tenha coerência.

Significado e mente

Quando o significado de uma expressão é compreendido, pode-se asseverar que uma conexão entre a expressão e os conceitos que residem na mete (no banco de dados mental) é estabelecida mediante aquilo que a expressão se refere. Quando se assevera que o significado é um conceito que está na mente, também é afirmar que o mesmo trata-se de uma entidade mental. Mas, nem todos armazenam informações da mesma forma; de acordo com esta abordagem cognitiva, o significado vem de dentro de cada indivíduo concomitantemente com a maneira que interage com o meio que o circunda descartando a possibilidade de que o significado vem da relação com o mundo, e uma vez que o significado vem do meio que nos circunda, pessoas de diferentes culturas terão diferentes conceitos das coisas, de acordo com o seu meio de convivência. Como exemplo disso, temos as variações linguísticas; pessoas utilizando expressões diferentes para falarem da mesma coisa. Vejamos alguns exemplos. Em Minas Gerais utilizamos carne, para nos referirmos a este item no mundo, porém, em vários lugares em São Paulo, se utiliza a palavra ‘’mistura’’ para se referir a mesma coisa. Não diferente de outros países; no Brasil utilizamos ‘’ maçã’’ para se referir à fruta, mas, ‘’Manzana’’ e ‘’Apple’’ em espanhol e inglês para nos referirmos a mesma coisa. O que quer dizer que, o nosso meio de convívio e as experiências que temos no mundo e com outras pessoas, molda a forma de estabelecermos conexão com a realidade a nosso redor e as expressões linguísticas que se ligam através dos conceitos e ideias, e assim, forma-se a memória que ampara o falar e o pensar.

Conclui-se que, o significado ainda não é algo totalmente explicado e não há um padrões para todas as situações, mesmo porque padronizar a língua é algo praticamente impossível, mas, deseja-se chegar o mais próximo disso; de desenvolver teorias que explique o significado de forma mais precisa.