Um olhar ao Ensino das Línguas Nacionais (opção Umbundu)

A situação actual das línguas nacionais é resultado não apenas do modelo colonial português, mas também, grandemente, a falta de política linguística do nosso Governo, ou seja, durante anos os estudos sobre as línguas nativas constituíam uma raridade, quer por falta de apoio fundamentado pela ausência de um olhar político claro sobre a língua, quer também devido a visão que os falantes tinham sobre estas ,porém, actualmente, há um grande interesse nos estudos sobre as mesmas, motivado pela necessidade do conhecimento da nossa cultura. Todas estas questões adiaram o pensamento do ensino das Línguas Nacionais, não há acervos bibliográficos suficientes que reflitam sobre como ensinar as Línguas Nacionais, quais os perfis dos professores destas línguas, os métodos adequados, ou estratégias de ensino assim como também não há constituição de uma norma de cada língua Nacional o que constitui uma enorme dificuldade; o Português, por exemplo, que é a língua que está em frequente relação de adestracto com as tidas como Nacionais já está bastante avançado , pois há vários autores que pensam sobre a didática desta. Este atraso também se estende naquilo que se entende por norma, as poucas gramáticas que existem , por exemplo, estão mais viradas a um ponto de vista descritivo que normativo, talvez por terem sido escritas na sua maioria por missionários estrangeiros e estes por falta de competência linguística das Línguas Nacionais, tiveram como prioridade a descrição.

Fala-se hoje muito de ensino das Línguas Nacionais ( Umbundu) , mas é preciso que se perceba que não é possível falar de ensino sem didáctica, mas se praticamente não existem acervos bibliográficos – posicionamentos científicos sobre o ensino das línguas nacionais-, por causa do atraso em se pensar no ensino destas, de que didáctica os nossos professores se vão servir? Que didáctica se vai ensinar nas escolas de formação de professores? Enquanto há este desfalque, sugerimos a didáctica das línguas que leva o professor a ter em conta como o sujeito da aprendizagem tem esta língua que se ensina, primeira ou segunda ? Isto vai obrigar o docente no início das aulas a fazer um pré-estudo sobre a situação linguística de sua turma, monolíngue ou bilingue?. Assim o professor saberá como ajudar cada aluno a resolver os problemas, se for um indivíduo que tem o Umbundu como primeira, por exemplo, como já se sabe que este possui competência linguística , uma vez que todo falante tem a menos o conhecimento implícito da língua que fala, conhece a sua língua materna já que possui uma gramática interna, conhecimento interiorizado, a aposta será a aquisição da competência comunicativa, aliás, este constitui o principal objetivo do ensino de qualquer língua, a comunicação. Caso for como segunda, então a aposta é a aquisição de ambas competências. Portanto, no ensino destas línguas, deve-se ter em conta a didática da língua materna – língua 1, ou a primeira língua que o aluno teve contacto, diferente do conceito de língua mãe que é uma proto-língua, como o proto-bantu, ou o proto-indoeuropeu- e didáctica da língua segunda, sobre isso abordaremos com mais profundidade abaixo.

Sabemos que estámos numa fase em que o professor é um mero facilitador, orientador da aprendizagem e deixou de ser o centro do processo de ensino e aprendizagem, dando lugar ao aluno que é no modelo da Escola Nova o centro do processo de ensino, o sujeito da aprendizagem, activo na construção do conhecimento. Mas não são apenas estes os elementos envolvidos neste processo, a acrescer temos ainda os métodos, o conteúdo, os meios, o contexto e outros. Qual o elemento que interage no PEA que se deve priorizar no ensino de uma língua materna ou segunda? Para resposta a esta pergunta, somos peremptórios, deve-se priorizar, a nosso ver , o conteúdo. Que conteúdos programáticos se deve darAqueles que facilitam o sujeito da aprendizagem a desenvolver a sua competência conforme este vê a língua, primeira ou segunda. Se a turma for de alunos que têm o Umbundu como L1 então o esforço será levar o indivíduo , uma vez que já conhece a língua que fala, a saber como funciona a língua, isto é, conteúdos relativos a gramática da língua, história, linguística, ortografia, literatura e a comunicação, esta que é o objetivo primordial de qualquer língua como já afirmámos.

A nível da capacidade comunicativa que o aluno deve desenvolver com ajuda do professor, é importante que se atente no uso da língua no contexto real da comunicação (competência Pragmática); a forma de produzir o discurso ( competência discursiva); a capacidade de poder explicar as palavras por outras palavras ( competência Metalinguistica). Nesta perspectiva, o professor não vai ensinar a língua, porque esta os discentes já a dominam, aliás, como já afirmámos, todo falante materno tem o domínio da língua que fala, por exemplo, quando se vai ensinar os sons em Umbundu, o docente deve saber que o aluno já conhece os sons, não precisa de os ensinar mas sim de os ajudar a identifica-los, a conhecer a sua taxonomia fonológica, isto é, o aluno, que tem o umbundu como primeira, saberá que a palavra [ndjoon] não é umbundu, porque não reconhece essa ordenação dos fonemas na sua língua, mas se ouvir a palavra [ondjo] não terá dificuldade de a reconhecer como um lexema pertencente a sua língua. A nível da sintaxe também se pode dar outro exemplo, ele já sabe a ordem das palavras na frase e num diálogo saberá que esta frase [ yange ondjo] não seria a forma mais adequada, porque não obedece a ordem normal da frase de sua língua, ou ainda na frase[ ondjo cange] saberá naturalmente que há falta de concordância, é um conhecimento interno, não precisa de ser letrado para que ele saiba disto.

O aluno não é uma tabula rasa como se defendia na Pedagogia tradicional baseada nos ideais dos empiristas segundo o qual no processo da aquisição do conhecimento dá-se primazia a experiência, de facto a Pedagogia Nova vem desmistificar este pensamento que começa a ter notoriedade com Rosseau ( Emílio), no século XVIII.

Referências

LIBÂNEO, José Carlos – Didáctica, São Paulo, Cortez, 2013

SANTANA, António Inácio Rocha – Ensaios Sobre Pedagogia Práticas Educativas vol. 1, Rio de Janeiro, Editora Dois03, 1966

PILETTI, Claudino – Didáctica Geral, Ática, 1984

MALUMBU, Moisés - Gramática da Língua Umbundu, Edizioni Vivere in, 2007

3.

Fernando Tchacupomba
Enviado por Fernando Tchacupomba em 03/04/2020
Código do texto: T6905696
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