Comparação entre as teorias Sociolinguística e Pragmática

Conforme afirma Mattoso Câmara (1975, p.16), é pelo desenvolvimento da sociedade que se criam condições favoráveis à manifestação da linguagem. O caráter social da língua é de fácil verificação. Além das diferenças linguísticas regionais, em uma mesma comunidade existem também variações relacionadas à idade, grupo social a que pertence o falante, identidade de gêneros etc. Portanto, as línguas não são homogêneas, como afirma Goffman: “É quase impossível citar uma variável social que ao surgir não produza um efeito sistemático sobre o comportamento linguístico: idade, sexo, classe, casta, país de origem, geração, região, escolaridade, [...]” (GOFFMAN, 2002, p. 13-14). Assim sendo, cabe a Sociolinguística estudar a língua como um sistema heterogêneo, entendendo as variações e mudanças linguísticas como objeto de reflexão e análise. Conforme propõe Labov (2008), a variação não é caótica ou desorganizada, mas condicionada por fatores intralinguísticos e sociais.

A segunda metade do século XX é marcada no campo da linguística com o advento dos estudos da Pragmática. O foco se desloca do estudo propriamente da língua para, então, o uso que os falantes dela fazem. A função do usuário e de sua situação social são elementos determinantes para se compreender como e por que usamos determinadas sentenças em uma determinada situação de comunicação. Assim, a Pragmática tem como objeto de estudo os fatores que regem as escolhas linguísticas na interação social dos falantes, tal como indicado por Levinson (2007, p.27), a “Pragmática é o estudo da capacidade dos usuários da língua para emparelhar frases com os contextos em que seria adequado”. Por tal explicação, a pragmática tende a ser mais semelhante à Sociolinguística (LEVINSON, 2007; MEY, 2001) por considerar primordial nas análises linguísticas o papel do falante no contexto situacional. As tendências atuais de pesquisa em Linguística apontam cada vez mais para uma perspectiva sociolinguística e mais definida pela competência pragmática, isto é, abordando os estudos da linguagem nas mais variadas formas de práticas sociais de acordo com o perfil do usuário (Rose; Kasper, 2001).

Bibliografia:

CÂMARA JR., Joaquim Matoso. História da Linguística. Petrópolis: Vozes, 1975 [1962].

GOFFMAN, Erving. A situação negligenciada. In RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, Pedro M. (org). Sociolinguística Interacional. 2 ed. Edições Loyola, São Paulo: 2002.

LABOV, William. Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008

LEVINSON, S. C. Pragmática. Tradução Luís Carlos Borges, Aníbal Mari; revisão da tradução Aníbal Mari; revisão técnica Rodolfo llari. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MEY, J. L. Pragmatics: an introduction. 2 ed. Malden: Blackwell, 2001.

ROSE, K. R.; KASPER, G. (Ed.). Pragmatics in language teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.1-10.

Gelson Teixeira
Enviado por Gelson Teixeira em 19/07/2020
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