A RAINHA DA LIXEIRA

Prólogo

Chovia a cântaros, mas eu precisei sair de casa para ir ao centro da cidade. Na Rua Maciel Pinheiro, em Campina Grande, PB, reencontrei uma antiga namorada. Pelo porte, empáfia, e jeito altivo de andar eu a chamava de minha linda rainha. – (Nota deste Autor).

O TRAGICÔMICO REENCONTRO

De longe ela me viu, mas com uma rabissaca, própria dos biltres, ressentidas e amargas pessoas, ela tomou, estabanada, outra repentina direção, indo de encontro a uma abarrotada, sebosa, e fétida lixeira.

Como se isso fosse possível dei uma gargalhada silenciosa porque eu não queria zombar nem chamar a atenção da criatura atarantada e com o rosto sujo, com restos de comida, pelo infeliz incidente com a lixeira.

Corri solidário e segurei a mão enrugada, trêmula e imunda, da hoje idosa que, de forma incompreensiva, mas hilária disse séria: “Estou bem, obrigada. Você não me é estranho. Nem sei como isso aconteceu”. – Mentiu.

Respondi sério e respeitoso, contendo uma risada cretina: "A vida tem dessas coisas... Por mais velho, simples, pobre e inculto que eu seja, tudo ao contrário do que a senhora é, sou mais limpo do que essa lixeira".

CONCLUSÃO

Nem sempre percebemos, mas as coisas boas estão dentro de nós. Num local onde os sentimentos, bons ou ruins, não precisam de motivos para emergirem.

Tampouco os desejos, sepultados ou vivos, necessitam de razão para, de forma espontânea e solidária, ajudarem a uma pessoa jovem ou idosa acidentada.

O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração; pois a vida está nos olhos de quem sabe ver, viver, sorrir, amar, encontrar e/ou reencontrar, depois de muitos anos, uma outrora linda jovem, mas hoje uma decrépita ex-rainha, numa lixeira e sem paixão.