É CERTEIRO
É certeiro!
É sim, que vou acabar machucando-te, vou magoar-te com o meu jeito possessivo e muito profundo de amar, de cuidar, proteger.
Jeito de tomar conta, de querer ter-te aqui comigo.
Provavelmente, nunca descubras que não existo, que não faço parte dos vivos, que não passo de uma alma presa no mundo com medo de aceitar à morte.
05 de Outubro de 2021
15 horas e alguns poucos minutos, foram os meus últimos suspiros.
Vamos sair, quero ver-te.
Vamos de moto, que estou realmente a fim de finalmente conduzir com o pouco que você ensinou.
Burra, burra que sou! Burra ao ponto de não perceber o álcool nela, a desestabilidade corporal e os sorrisos mais leves do que o normal.
Burra, burra por aceitar que o capacete ficasse comigo e ainda assim não ser o suficiente para poder me proteger e acabar igualzinha à ela, morta.
Burra por não aceitar a morte, rejeitar ela, mesmo o meu físico já não fazendo parte dos vivos, apenas a minha alma.
Louca por me apaixonar, por viver um amor
Porém, limitada.
Limitada por milhares de entraves
Por não ter um rosto
Um corpo
Uma estrutura
Por me apaixonar e saber que não dará em nada
Que será apenas mais um sentimento que não será vivido
Não sei se perceberás a minha carta
Queria, queria poder escrever-te uma carta e mandar-te.
Queria poder encontrar-te agora na tua escola e abraçar-te
Levar-te à casa
Cuidar de ti!
Mas, não me verás!
Tal como não me viste ontem de noite
Enquanto gargalhavas
Eu tinha que apenas observar-te
Olhar-te à distância.
Não tenho coragem de dizer-te isso.
De me despedir!
De deixar-te ir!
Não agora, mas os meus dias como um fantasma provavelmente cheguem ao fim!
Ontem, dei-me conta que não sei quem sou, e que semanal e mensalmente assumo diversos corpos, diversas almas, diversos pensamentos.
Não sou apenas uma, sou várias dentro de um corpo inexistente.
Será que consegues perceber!?
Talvez não, eu estou indo.
Para sempre!
A minha alma precisa descansar
E talvez quando tentares saber de outras pessoas, ninguém te consiguirá responder
Alguns dirão que sou fictícia, outros que não existo, mas se alguém de verdade disser que morri há 2 anos, será das pessoas que realmente conheceram-me.
Não sofra, não me procure!
Provavelmente eu estarei por aí, ouvindo-te, sentindo-te e até às vezes, bem do teu lado, mas não poderás ver-me, nem tocar-me, nem sentir-me.
E não poderás matar-me, porque já são 2 anos que estou morta e vagueio nesse mundo sem direcção, sem acção, apenas movida pelas sensações dos poucos momentos que deram-me a oportunidade de assumir algum corpo.
E não, não sou fictícia, a minha alma existe, só não existe um corpo para lhe sustentar.
Poderia voltar no tempo e não fazer muitas coisas, mas das poucas certezas que eu tenho, é que amei-te, por 3,4,5,6 dias, amei-te cada minuto e cada segundo.
Cuida de ti meu pedacinho de céu. Minha princesa, sol das minhas manhãs.
Te amo e me odeio por isso.
The End
MGREGÓRIO
20.09.2023
08:49AM