Vovô Paraná (Homenagem a João Batista de Carvalho - Danga)

Quando se fala em saudade eterna eu logo vou me lembrando do Vovô Paraná, meu avô materno, que faleceu em 2021 e com o qual eu convivi 42 anos da minha vida. Seu nome João Batista de Carvalho, filho de José Martins de Carvalho e Iria Cândida de Carvalho, nascido em 27 de julho de 1932, na cidade mineira de Caldas, que na época era Parreiras.

Nos anos 50 do século passado a família Carvalho foi para o Paraná, adquiriram terras no então distrito de Barbosa Ferraz, que pertencia a Campo Mourão. Em 1960 ocorre a emancipação político-administrativa de Barbosa Ferraz e a família passa a figurar como uma das pioneiras do novo Município. Eles se estabeleceram na zona rural, no bairro que batizaram como São Judas Tadeu, santo de devoção familiar e também foram doadores do terreno onde foram construídas a Igreja, Escola e área esportiva.

Meu avô sempre teve o apelido de Danga, história essa que ainda não sei a real origem, mas desde que, no final dos anos 80, passou a morar aqui em Borda da Mata, no sul de Minas Gerais, recebeu a alcunha de João Paraná. E agora, na geração dos bisnetos, era carinhosamente chamado de Vovô Paraná.

As lembranças mais antigas que tenho do Vovô Paraná são da época que eu tinha uns quatro pra cinco anos. Lá em Barbosa Ferraz ele era muito conhecido e querido por todos. Ele sempre me levava para passear pela cidade. Em cada canto que passava as conversas e histórias eram intermináveis. Fazíamos um tour pelos diversos bares das imediações, onde o Vovô gostava de tomar cachaça e jogar truco. Era o bar do Eustáquio, do Antônio de Santi, do Serjão da Tita, do Gancho e a venda do Zé Bernardo. Passava ainda pela Mercearia do Martim, que por um tempo também foi do Bagé e pela Máquina de Arroz do Mandioquinha.

Lá no sítio do bairro São Judas Tadeu o Vovô plantava soja, algodão e trigo. Ainda me lembro da época de colheita de soja e de trigo, quando as colheitadeiras ficavam até tarde coletando os grãos que iam direto pros caminhões. E quando era a panha do algodão um monte de catadores salpicavam aquela plantação toda branquinha como a neve. Toda a produção agrícola era vendida para a Cooperativa Agropecuária Mourãoense (COAMO) onde meu avô era um dos cooperados. As várias vezes que ele ia ao entreposto da Cooperativa para negociar o preço de venda dos cereais, ele me levava junto. Gostava de me mostrar toda a estrutura, apresentar os funcionários e sempre me informava que o valor da soja era cotado pela Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos.

Em 1986, quando comecei a estudar, iniciando direto na 1.ª série do antigo primário, foi ele quem me levou na escola pela primeira vez. Fui matriculado na Escola Estadual Machado de Assis, que ficava um pouco distante de casa e onde minha irmã Luciana viria a estudar no futuro também. A minha primeira professora se chamava Ana Maria, meus materiais escolares eram acondicionados numa pasta de papelão grosso comum na época e o lanche nas famosas lancheiras, com uma garrafinha pro suco junto.

Quando eu estudava na 3.ª série, acabei vindo para Minas Gerais morar com a Vovó Ilda e o Vovô Paraná, onde fui matriculado na Escola Estadual Comendador José Inácio (Grupo), atual Escola Municipal Benedita Braga Cobra, uma instituição centenária bem no centro de Borda da Mata. Mais uma vez foi o Vovô Paraná quem me levou no meu primeiro dia de aula. A primeira professora em terras mineiras foi Ana Tereza de Oliveira Nogueira, a querida Dona Ana do Bolão.

Aqui o Vovô também era muito conhecido e me levava para passeios pela cidade, onde foi me apresentando seus amigos. Primeiro foi pelos bares, onde continuava com seu jogo de truco e as cachacinhas. Era o Bar do Vená, Bar do Alfredão (antigo Bar Rodoviário, onde pegávamos ônibus para ir no bairro rural da Palma), Bar do Vandi, Bar do Vicentinho e a Casa Tem Tem, do Zé da Loteca, onde aos 13 anos tive meu primeiro emprego em 1992. Através do Vovô conheci pessoas maravilhosas como os saudosos Dito Pio (da madeireira), Zé Pinheiro (são-paulino roxo), Delson Machado (Cachoeira), Betinho do Biase Paoliello, Roquinho irmão do Pirulito, os irmãos Zé e Tião Leriano, João Borá, Garcia Brandão, Sininho, Avilmar e Tião Loreto. Outra amizade de décadas que teve início através do Vovô é com o Laércio Barbeiro, que cortou o cabelo dele até o final da vida e continua sendo o meu barbeiro por mais de 20 anos.

Em 2005 entrei para o serviço público na Prefeitura Municipal de Borda da Mata onde estou na ativa até hoje, já como servidor efetivo. E o Vovô sempre teve o maior orgulho de ter um neto jornalista (formei em 2000 na UNIVÁS) e que trabalhava na Prefeitura. Antes de ficar doente, ele passava lá na Prefeitura quase todos os dias para me ver. Aos domingos nós assistíamos aos jogos de futebol na TV, ele era torcedor do Santos de Pelé. Gostava muito de política e me contava que lembrava do suicídio do Presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 e chegou a conhecer pessoalmente o Presidente Juscelino Kubitschek na década de 50, quando o mesmo visitou a cidade-natal de Vovô, a pitoresca Caldas, aqui no Sul de Minas Gerais. Ele tinha um apreço enorme por Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Mário Covas, José Alencar e Itamar Franco. Quando fui candidato a vereador em 2020, embora não votasse mais, ficou numa torcida imensa por mim, e quase fui eleito, faltaram apenas cinco votos.

Depois de uma queda em meados dos anos 2000, onde fraturou várias vértebras da coluna, o Vovô voltou a andar com a ajuda da inseparável bengala, quando ainda frequentava os bares e ia na Missa toda sexta-feira, três da tarde, na Basílica de Nossa Senhora do Carmo. Mas depois de dois derrames (acidente vascular cerebral) acabou ficando praticamente de cama, sem sair de casa, por mais de 10 anos e veio a falecer em 30 de setembro de 2021, com 89 anos de idade. Deixou dois filhos, o tio Geraldo e minha mãe Maria do Carmo. Quatro netos: o primogênito que sou eu Antonio Agnaldo (Léo Guimarães), minha irmã Luciana, o Kleison e a Klecielle. Chegou a conviver com 3 bisnetos: Lucas, Vitor e a minha filha Ísis. Só não conheceu seu quarto bisneto, o meu filho Levi, que nasceu em 2023.

Para seus amigos, familiares e principalmente para mim que convivi com ele por toda a minha vida fica uma eterna saudade e lembranças inesquecíveis, além do legado de uma pessoa muito comunicativa, fácil em fazer amizades e de um grande coração, não esquecendo de sua enorme fé em Deus e em Nossa Senhora. Em nossas mentes e corações a eterna saudade do Vovô Paraná.