SÍNDROME DA AUTO-FLAGELAÇÃO

SÍNDROME DA AUTOFRAGELAÇÃO

Hoje resolvi fazer uma análise sobre as pessoas depressivas que conheci ao longo da minha vida.

Confesso que não sabia o que era, como apareciam os sintomas e qual a filigrana de diferenças que existia entre uma pessoa triste com um motivo e uma pessoa triste que não sabia de onde partia a sensação de impotência diante daquela negritude interior.

Já tive passagens difíceis, em becos sem saída, sem luz no final do túnel, mas sempre restava aquela linhazinha, mesmo que fraca, com a esperança de que tudo iria dar certo no final das contas.

Minha amiga sentou-se no sofá e, como numa catarse, começou a falar de suas tristezas ao longo da vida, de suas tentativas de suicídio, da falta de motivação para lutar por uma causa. Realmente, ela está passando por dias bem difíceis, mas e quando não estava nesta condição tão penosa? Parece-me que agora sim, ela se sente com autoridade para falar de sua depressão.

Ela começou a lembrar que tinha 7 empregados a sua disposição, 4 carros com motorista, um enorme apartamento localizado num dos endereços mais caros do Rio de Janeiro, escultora, atelier e oficina num casarão em Cosme velho, vizinho à família Marinho da TV Globo. Seus filhos freqüentavam os melhores colégios e ela não tinha por que se preocupar porque tinha tudo à mão e à hora. Foi daí que me veio à mente a situação em que ela se encontrava naquela época. Ela era obesa e sentia uma tristeza muito grande por isso. Depois veio a catástrofe em sua vida porque o marido a deixara para viver com a irmã mais nova. O motivo se encaixou direto para que ela afundasse de vez na sua depressão. Daí pra frente a amargura tomou conta de sua vida.

A pessoa depressiva fica na fome de achar os motivos para a sua tristeza, a sua impotência diante dos fatos e busca preencher o vazio dos porquês com os fatos que ela mesma provoca para si ao longo dos dias e das noites.

Sei que esse tipo de psicopatia não é tão fácil assim de ser analisada, mas prefiro dissecá-la como leiga para entender melhor o comportamento das pessoas que são dominadas por esse mal.

Ela buscou a obesidade, ela buscou a traição de seu marido, ela buscou a sua própria derrota para que pudesse justificar os seus fracassos.

A personalidade de minha amiga está voltada para a pena de si mesma diante dos fatos. A auto-flagelação se esconde por detrás da pena que sente de si mesma. A vida é seu próprio carrasco e como pode ela lutar contra essa “força” que a impele para o fundo do poço?

Se houvesse um meio de desvendar esse segredo que a tortura internamente, eu o faria, mas não sou gabaritada para tanto.

O discurso do “pobre coitada” toma conta de sua personalidade e se instala para que ela não se mova, para que não ache uma saída para a acomodação de sua vontade.

Esse não é um assunto para ser diluído em tão poucas linhas, mas todo um complexo que envolve a mãe, a família e outros componentes de sua infância. Acredito que essa debilidade química poderia ter sido amenizada com uma chamada mais firme, um pulso mais forte para que ela tivesse tomado consciência de que não pode esmorecer diante dos problemas que a vida se lhe oferece.

Tristezas sentimos todos, debilidade diante dos problemas sentimos todos, mas temos a obrigação de lutar para que os fatos não dominem o nosso destino.

A fraqueza não pode tomar conta do nosso discernimento, enfim, depois escrevo mais sobre isso...

Eliane Thompson
Enviado por Eliane Thompson em 10/06/2011
Reeditado em 10/06/2011
Código do texto: T3026493
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