CONHEÇA-TE A TI MESMO

No Oráculo de Delfos, na Antiga Grécia, havia um aforismo inscrito em seu pórtico que serviu de filosofia ao filósofo grego Sócrates, que andou pela Terra entre 469 e 369 a.C..

Santo Agostinho, na questão 919 de O Livro Dos Espíritos responde a Allan Kardec quando o codificador pergunta: Qual o meio mais prático e eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir ao arrastamento do mal? Um sábio da antiguidade vos disse: Conheça-te a ti mesmo. Fazei o que eu fazia quando vivi na terra. Ao fim de cada dia interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever e se alguém não teria motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma.”

Temos um compromisso aqui na Terra muito sério e muitas vezes não nos damos conta disso. Não fazemos noção de nossa real importância aqui, neste planeta. Nenhum de nós reencarna aqui para ser mal, para vingar, para sofrer, para brincar ou para depois morrer e acabar tudo. Aproveitar nosso tempo com afazeres voltados para a conquista de conhecimentos úteis e para auxiliarmos no engrandecimento das obras de Deus é dar valor a nossa estadia neste planeta que nos abriga.

Devemos, por isso, agradecer a Deus por nossas vidas, pelo nosso trabalho, familiares, amigos, saúde, pelo amanhecer, pelo teto que nos serve de abrigo, pelos nossos olhos, nossas pernas, braços, por podermos falar e ouvir. Somos abençoados, e todas essas coisas nos são dadas para que possamos cuidar e proteger esta terra e as pessoas que aqui estão. Muitos de nossos irmãos não possuem tais condições e fazem muito mais do que nós por nosso orbe e por seus moradores. Achamos que nossa vida é dura, que temos problemas, mas não enxergamos que existem pessoas que não têm o que temos e vivem com coragem e são positivas diante das escabrosidades do caminho. Em vez de sermos exemplos para elas, elas é que nos dão lições de superação.

Valorizar o que adquirimos ou o que nos foi dado é agir com sapiência. A ingratidão de nossa parte para com Deus, fecha nossos olhos e

endurece nossos corações, e assim não percebemos que aquilo que temos e

esnobamos, ou não enxergamos, é o sonho de muitos.

Quantos vivem sob pontes e marquises, sem o que comer, desempregados, sem roupas. Quantos outros não têm seus braços, pernas, não ouvem, não falam, não tem família, sonhos e expectativa alguma, perderam um ente querido, não têm sossego por causa da fama que adquiriram, são viciados em drogas, têm muito dinheiro, mas na realidade o dinheiro é que é o dono deles, trabalham demais, vivem em brigas com a família e tantas outras situações?

Dar valor ao que temos, tornando a vida daqueles que nada têm ou que pensam nada ter, menos dolorida, através da resignação, da partilha e da humildade é contribuir significativamente para a construção do Reino de Deus em cima da Terra. Nossa força consiste na resignação e na compaixão.

E como andam as nossas forças e a nossa capacidade de superação? Aceitamos os diversos acontecimentos do lar, do trabalho e da vida como ensinamentos e oportunidades e agimos construtivamente ou somos dominados pela insegurança, temor e falta de confiança, caindo em desespero ou depressão? Enfrentamos o desafio novamente, sem esmorecer, logo após o fracasso ou ficamos a nos remoer longo tempo com pena de nós mesmos porque as coisas não saíram como supúnhamos? Adaptamo-nos rapidamente a novas circunstâncias e sentimo-nos fortes, ou temos dificuldades de nos desligar de uma situação sombria e sentimo-nos fracos? Percebemos o lado positivo dos fatos e coisas ou nos fixamos nos aspectos aparentemente negativos?

Ao nos fazermos estas perguntas, aprenderemos a nos conhecer, uma vez que a avaliação de nosso comportamento, observando que tipo de emoções causamos em nossa volta e como os fatores externos nos tocam, nos fará identificar em que precisamos mudar. Se nossas palavras e atitudes magoam àqueles que convivem junto a nós, temos a necessidade de nos reposicionarmos e aprendermos a falar e agir de uma forma a esclarecer, educar e consolar. Se determinadas situações e ambientes nos ojeriza, não há como permanecer neles. “Onde estiver o seu tesouro aí estará seu coração”...

Quando Sócrates nos recomendou que conhecêssemos a nós mesmos, era sobre conversarmos conosco, ouvir a voz interior, procurar pelos recônditos de nossas almas aquilo que nos escraviza, o que tememos;

assumir esses medos, essas fraquezas. Isso é reflexão. Reflita.

Através de palavras e mentalizações positivas e através da mudança de atitudes e hábitos, estaremos levantando das quedas. Isso é ação. Aja.

Conhecer a nós mesmos é, também, saber que somos oriundos de Deus, destinados à perfeição e que seremos colocados dentro de determinadas circunstâncias para aproveitarmos o momento como experiência e ensinamento, assimilando conquistas que prepararão o terreno para a aquisição de valores mais edificantes.

O estado de morbidez em que mergulhamos em um momento frágil pede iniciativas para que não fiquemos danificados permanentemente. De repente, surgem algumas pessoas no alto de uma montanha, como Moisés, a nos chamar para o banquete de luz, onde teremos a possibilidade de descansar após a faina. A continuidade da luta pede, da forma que pudermos, abdicação das fraquezas.

Somos espíritos perambulando pelo mundo, escolhidos pelo Criador, entre muitos, para colaborarmos nas criações. E a tarefa a ser executada pede que não desanimemos. Nós somos representantes do Cristo de Nazaré, somos seus pequenos aprendizes e devemos continuar com seu legado. Como tais, seremos defrontados por tormentas, que são testes, que farão brotar em nossas almas o amor, tornando-nos soldados do bem. Mantendo-nos firmes e vigilantes, para que esses testes e provas não nos vençam, em vez de os vencermos, é valorizar a oportunidade que nos foi concedida. A recompensa que nos aguarda é a felicidade do dever cumprido e a consciência serena.

Fique de pé. Levanta-te e anda-te. Essas foram uma das frases que o Mestre Divino pronunciou. Lembre-se delas naqueles momentos em que tudo parece perdido, pois é assim que venceremos qualquer barreira que surgir em nosso caminho.

O conhecimento de nós, na totalidade, é campo a ser revelado em doses paulatinas. Os fatores tempo, convivência, lições, reencarnações, e percepções nos tornarão aptos a esse conhecimento. Por isso, é preciso dar tempo ao tempo, conviver através de várias reencarnações, assimilando as lições através das percepções, porque Deus, Jesus e o próximo são as chaves que abrem a porta que nos conduz à angelitude.

O nosso próximo é a ponte que nos leva à nós, e Jesus é a ponte que nos leva a Deus.