Rochas Erodidas

A Vida flui no concerto da evolução que, sem interrupções, embala o todo. Desde a mais ínfima expressão do Ser no microcosmo até o bailado dos Universos na seara do infinito.

Nalgum ponto do Hálito Divino o Verbo ressoa na condição humana do orbe azul que habitamos.

À restrição máxima da individualidade, o Ser vibra no despertamento da Consciência que pode suportar.

Ciclos sucedem-se...

Evos passam...

O tempo se demora na unicidade do passado, presente e futuro.

No agora vivemos um ciclo agonizante de transformações sobrepostas, atormentadas, confusas, na dor da ilusória euforia do abandono dos limites.

O Ser convulciona por negar-se ao compromisso de controlar as rédeas dos instintos efusivos cujo arrebatamento traciona a carruagem na ascensão espinhosa.

A força e o deslumbramento são cultivados porém faltos da disciplina que educaria e traria erudição até mesmo aos trovões dos timbalos.

Átimo miserável da Eternidade, uma existência com algumas décadas desnuda abismos de negligência aos valores de atenuação das arestas e farpas, à deformação da liberdade que se degenera em libertinagem.

Os tempos do aqui e agora são como a superfície da água em ebulição.

Agitações que ferem, perdem-se na essência que se esvai como vapor. Aprisionam o ardor no limiar, evitando abreviações, até que todo o fluido rompa sua união por um arrebatamento de vôo solitário em direção descontrolada.

Ver-se-á cada partícula na surpresa de que, vencida a fuga para as altitudes, o frio congregará núvens asserenadas. A luz já não passará com a ternura que aquece. A tormenta se escurecerá e o retorno dar-se-á pela tempestade a se precipitar com a missão de atenuar a estiagem que irrefletidamente causara a deserção anterior.

Todavia, qual nova surpresa para olhos incautos, não haverá nisso nem um grão além de, tão somente, mais um ciclo da chuva com que o todo se mantém harmônico.

Rochas erodidas, tempestades vêm e vão para que nasçam os vales, as planícies... Para que pântanos gerem pradarias...

Vivemos uma época em que a dor e o sofrimento repetem antigas semeaduras para que novas sementes de lírios germinem no campo, em meio aos muitos espinheiros e formigueiros...