Seu José era o último da fila

Chegava sempre as 20:00 da noite para conseguir marcar suas consultas.Sentava,pegava um livro pra ler,a garrafa de café, colocava no canto a seu lado e quando ficava com sono pegava a xícara e coloca seu café e tomava enquanto lia.Quando o sono batia pegava o cobertor e se cobria.

Eu ficava de longe olhando sem nada a perguntar.

Ele me olhava a sorria e caia a madrugada .

O silêncio rondava a emergência.

Algumas pessoas dormiam,alguns colegas descansavam o término do plantão. O cansaço vinha e eu lembrava dele.Passeava pelo corredor e lá estava ele sentadinho dormindo com o livro nas mãos. Ele sempre foi o primeiro a chegar.

Um dia resolvi perguntar sua idade e ele disse:89 minha filha. Me emocionei.

Passei a falar dele para as pessoas que me perguntavam o porque de tanta gente à noite no hospital.Sempre citava-o como exemplo.

Que orgulho do senhor seu José, nos motivando a não parar,a não desistir,a insistir,à brigar.

Falei do senhor para tantos e hoje com certeza alguém lembrou do senhor.Alguém que lhe olhou como um dia eu olhei,alguém que compartilhou comigo seus momentos de pura garra ali.Alguém que jamais vai desistir. Alguém que direto ou indiretamente vem fazendo um pouquinho que seja para não deixar passar despercebido.Alguém que vem falando,fazendo, lembrando, escrevendo,pesquisando, retratando, rememorando para não deixar morrer os Joses ,os Joaquins,os Severinos,os Antonios,as Marias, as Terezas.

Vocês são marco de resistência e de perseverança indescritível no caos em que se encontra a saúde e os hospitais públicos.

Que possamos encontrar mais joses pelo mundo,para prosseguirmos.

Tudo aí é verdade e eu compartilhei com a médica esse é vários momentos de seu José.

Que honra falar do senhor por aqui.