Há sempre uma saída

Em prantos sentou-se à mesa, tentando organizar seus pensamentos. Sofrendo por tudo aquilo que poderia ter sido e não foi. E ainda que parecesse irreal, tudo acontecera realmente. Há poucos dias a namorada o deixara, e justificou apenas que não suportava mais aquela situação. E, como se não bastasse, ainda deixou dívidas e um cachorro, que por sinal ele odiava.

Sentado à mesa, mãos cruzadas, cabeça baixa e aquele latido infernal do cachorro (que em breve sairia de sua casa) pensava em todas as possibilidades de fugir daquela situação e superar a dor da perda, porém não encontrava saída, a sua mente o traíra, estava no escuro, sem emprego, solteiro, com mais de 35, não era bonito e estava fora de forma e a única pergunta que fazia sentido era “Porque viver assim?”

Não sabia o que fazer, tinha explicação pra o que estava sentindo, mas se havia solução, não conseguia enxergar. Era um beco sem saída. E o que insistia em preencher seus pensamentos era deixar todo mundo. No entanto, morrer resolveria ou seria somente um fim rápido para tudo o que ele sentia?

Levantou, foi até o banheiro, olhou-se no espelho, e sentiu-se ainda pior. Estava acabado. No limite. Barba grande. Olheiras. Viu-se no Inferno. Mas sabia que dentro dele, em algum lugar existia um pouco de esperança, e tentava agarrar-se a ela, ainda que parecesse difícil. Olhou-se mais uma vez, tentou sorrir, dentes amarelados. Foi ao quarto, acomodou-se na cama, acendeu um cigarro, ficou observando a fumaça que dançava no ar, embalada pelo vento e uma música, samba talvez, que entrava pela janela, vinda de algum bar próximo, tomou um gole de vodca, deixada num copo sobre a cômoda havia dois dias, pegou um comprimido pra tentar dormir, talvez, e engoliu, bebeu mais um gole de vodca, falou em voz alta: amanhã, quando os primeiros raios de sol iluminar o céu, iluminará também a esperança dentro de mim. E surgirá também, uma nova chance de superar e seguir em frente. Amanhã, minha vida será diferente. Isso vai me alimentar. Assim, apagou o cigarro, a luz e em profundo sono ele mergulhou.

Mario Araújo
Enviado por Mario Araújo em 12/04/2017
Reeditado em 12/11/2021
Código do texto: T5968804
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