A realidade e a espera de uma nova esperança

A REALIDADE E A ESPERA DE UMA NOVA ESPERANÇA!

Quando iniciamos uma carreira profissional imaginamos muitas coisas consequentes dessa ação, logicamente muitas vezes só em coisas boas, principalmente em realizações que contemplam o mais profundo de nossas almas. É como se os problemas e as dificuldades existentes fossem tão pequenos e insignificantes que passam por despercebidos em nossos objetivos e além do mais, quem sonha em realizações profissionais ou até mesmo pessoais, não quer de maneira alguma pensar nas partes ruins. Sonhar é muito bom, e qual é aquele que não gosta de sonhar? Eu particularmente adoro, pois assim consigo alimentar a esperança que existe dentro de mim, não sei explicar muito, mas para mim o bom de sonhar, é quando nos damos conta do quanto foi preciso batalhar para uma realização alcançar. Sonhos pequenos, realizações pequenas, sonhos grandes, realizações grandes, enquanto sonho pequeno, podemos presenciar o sonho de homem que sonhou em ser por exemplo Presidente da República, sonho grande. Penso que nesse caso mais do que sonhar, é administrar o bem estar de formadores de opiniões, uns pensam grandemente, outros estranhamente, outros apenas vivem a vida de formas diferentes e acessíveis a sua realidade.

Quando em minha fase de infância, eu tinha muitos sonhos, até mais do que os atuais, por que as vezes eles ficam mais fechados e trancados dentro do peito do que em minha mente construtiva. Nessa fase, pode até parecer mentira, mas eu como filha mais velha, não era um filho homem que todo pai gostaria que fosse pelo menos o seu primeiro filho, mas eu era uma menina tratada como uma menina, porém de vestes masculinas, meu brincar se misturava entre carrinhos e bonecas, saias e calça jeans com o cinto e fivela na cintura e chapéu na cabeça, meu leitinho era bem quentinho dentro de uma caneca com açúcar e café, vindo diretamente da teta da vaca, tirado pelo meu pai. Por ter esse convívio social, para mim, quando crescesse seria veterinária, teria uma máquina de escrever e seria tudo o que eu quisesse ser.

Os anos se passaram, da zona rural tive que me despedir, Com toda a nossa mudança dentro de um caminhão, ficava ali um estilo de vida pelo qual sinto saudades, porém compreendo o quanto fomos evoluindo com o passar dos anos.

Aquela pequena menina teve perdas e ganhos, errou e acertou, sempre buscou a proteção divina vinda completamente do céu, por que é de lá que vem a nossa maior esperança e a salvação de toda humanidade.

Imagine uma pessoa criada praticamente no mato, vivendo em cidade, um verdadeiro fiasco, mas isso não vem ao caso.

Estudei até completar o Ensino Médio, por ironia do destino ou um presente, completei o magistério de quatro anos, casei sem ao menos tentar uma faculdade, alguns anos depois, já com a minha primeira filha nos braços, iniciei o Normal Superior e dei início a uma profissão que me escolheu, por que quando percebi já estava lecionando, não que eu não goste, pelo contrário, era muito bom, as crianças por mais numerosas que fossem, refletiam de si uma simplicidade pelo qual ia conquistando o meu coração diariamente.

Mas, enquanto todo esse encanto ia se construindo dentro de mim, uma vida social, econômica e política ia sendo construída, mesmo assim, a esperança ainda era a mais forte e poderosa dentro de nós.

Quando paro para pensar, tento descobrir em qual foi o momento que as coisas começaram a ser diferentes dentro de um contexto geral, o respeito e o amor ao próximo começa a diminuir, dando brecha e abertura para o egoísmo, pessoas pensando apenas no seu “eu”.

Hoje em sala de aula, vejo o quanto as dificuldades estão sendo cada vez maior, não consigo compreender até que ponto vale mais as exigências burocráticas do cumprir e encher papéis disso ou aquilo, do que ser e valer mais do que se pode fazer dentro de uma sala de aula, compreendo que normas são para serem compridas ao invés de questionadas, mas já parou para pensar que a palavra professor (a) foi trocada pelo substantivo tia (o), não precisamos estudar anos e anos para termos um diploma de tia (o), além do mais, para isso acontecer é preciso um outro acontecimento humano.

Um professor hoje, precisa ser atual, pesquisar e buscar meios metodológicos para que de tal maneira possa ajudar os seus alunos a compreenderem e a desenvolverem o seu melhor desenvolvimento na aprendizagem, tudo dentro do seu tempo. Ser mediador entre o conhecimento e aluno, nos faz sermos como os pilares de uma ponte, que precisam ser firmes e fortes para que a ponte não caia, já imaginou quantos afogamentos podem ser causados em situações como essa? O que hoje entristece o meu coração, é ver o quanto somos desvalorizados profissionalmente, e o pior ainda é ver o quanto somos inúteis diante de situações que nos fazem ficarmos frente a frente com elas.

Quando olho para aquelas crianças, tento imaginar como é a sua vida do outro lado do muro da escola, o que fazem, o que pensam, o que comem, e principalmente o que sonham. Em um momento questionei um deles com a seguinte pergunta? O que você quer ser quando crescer?

Ele responde:

- Quero ser polícia.

Dou-lhe os parabéns e digo que é uma excelente profissão, porém uma outra pergunta surge, então, mais uma vez perguntei:

- Mas por que você quer ser polícia?

Ele responde:

- Por que polícia MATA.

Me calei por um instante pois não imaginava ouvir isso de uma criança. Tentei mudar esse pensamento, porque o mesmo estava errado com esse tipo de conclusão.

Mas depois de melhor conhecer o seu meio social, comecei a compreender o porquê desse tipo de visão - Dorme no chão da cozinha porque para ele não há quarto, come arroz com feijão ou feijão com arroz, as vezes só arroz, enquanto a mistura é visita em seu prato, porém, é preferencialmente receber carinho daqueles que numa noite de amor, gerou-se essa vida, pois a carência de carne ou de qualquer outra mistura, se torna tão pequena diante da carência afetiva, que acaba gerando uma explosão de sentimentos dentro de um ambiente criado para ensinar e aprender.

Em outro caso, há poucos dias atrás, me deparei com uma lágrima vinda do mais profundo de sua alma, ou melhor dizendo de seu estomago, entre perguntas e respostas, durante o preparo do almoço antes de ir para a escola o gás acabou, não permitindo assim que aquela criança pudesse se alimentar dignamente para uma boa tarde de aprendizagem, é claro que levar a criança até a cozinha e pedir para que dessem algo para ela comer, não é dificuldade nenhuma, mas saber que isso continua em outros momentos é o que mais dói. Imaginei nos meus sonhos perdidos pelo caminho, e nos que ainda consegui em terra boa plantar. Que sonhos essas crianças tem e trazem dentro de si? Esses dias atrás, uma forte chuva enquanto molhava rapidamente meus cabelos ao entrar no meu carro, a casa daquela criança ficara toda inundada, por que por algum motivo assim se acontece, nesse momento, comecei a imaginar nas diferenças e desigualdades brasileiras, principalmente nos nossos atuais políticos, imaginei e comecei a ter uma certa repugnância, por que acredito que nossos representantes são escolhidos para representar o povo brasileiro, principalmente famílias como essas, sei e compreendo que por mais que se esforce é difícil conseguir resolver todos os problemas públicos do nosso país. Mas é muito fulminante ver de forma viva a grandeza de uma pobreza que destrói sonhos e consequentemente a esperança existente dentro de seus corações. Enquanto a corrupção política só enriquece os cofres particulares daqueles que esquecem que um dia vão voltar ao pó, os filhos e filhas desse país vão sentindo dia a dia o gosto da poeira que se levanta com as pedaladas de suas bicicletas, ou de seus chinelos remendados com pregos, por que para alguns, os sapatos estão metade costurados e metades escancarando os dedos de seus pés sujos da terra que seus passos marcam a cada passo.

Nesse calor de primavera, é de muito prazer erguer os vidros de seus carrões e apenas ligar o ar condicionado para seguir viagem, apesar que para muitos políticos, carro é de pouco uso, por que os aviões e helicópteros estão a sua disposição.

Essa desigualdade existente dentro do nosso país, é a que mais molda os nossos futuros formadores de opiniões, por que são como barro a serem moldados por mãos de muitos representantes corruptos. Não quero aqui trazer nenhum tipo de constrangimento ou jogar ovos e tomates em todos os políticos, quero apenas trazer aqui uma realidade que está construindo um futuro incerto para nossos filhos e filhas, venho aqui tirar um sentimento que engasga o peito, entristece e afoga cada vez mais o futuro de um país tão cheio de vida.

E o reflexo disso tudo? Salas de aulas superlotadas, crianças vindas de casa apenas para comer e beber, por que não tem nada na panela deles, corações amargurados e cheios de ódio, por que convivem num meio social desestruturado, sem amor, sem respeito, sem estrutura emocional, sem igualdade diante de uma sociedade que luta por direitos, esquecendo de seus deveres e simplicidades de uma maneira mais justa de se viver.

A esperança alimenta a todos que se permitem ser encharcados desse sentimento frutificado da fé, e assim estamos à em busca de uma nova página, a esperança vem sendo alimentada dentro de um povo que espera um novo amanhecer, um algo a mais que possa trazer um alimento que mate por mais tempo a fome de todos e não de alguns.

Sinceramente é ganhar ou perder, acertar ou errar, é preciso ao menos tentar para que no futuro se possa dizer que pelo menos se tentou.

Em novas mãos está mais do que uma nação, está o nosso futuro, o nosso presente e a limpeza das consequências de um passado disfarçado que insiste em dizer que conseguiu acabar com a miséria e a fome de muitos pobres do nosso país.

Maria Aparecida Ribeiro Lira
Enviado por Maria Aparecida Ribeiro Lira em 05/02/2019
Código do texto: T6567404
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