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FORÇA - É PRECISO DEIXAR MORRER
 
Todos nós temos a alma distraída, não importa a idade, a experiência de vida, quantos tombos já tomamos em nossos passos torpedos. Sejamos jovens ou não, vez por outra, cochilamos quando o assunto é sentimento, é emoção, é afetividade. Passamos a viver então, como o sol tivesse desaparecido de nossos dias e a noite caído sobre nossas cabeças, sem estrelas e sem lua. As horas passam ser a nossa eternidade e ficamos apinhados de pensamentos e sentimentos inexplicáveis. Sentimo-nos envoltos numa nebulosa, desabados pela tempestade das lágrimas, sem fôlego para vivenciar a alegria da vida. E esses fantasmas cruéis, sem pena e sem dó, entram pela nossa porta aberta da alma machucada, roubando-nos as nossas vontades, colocando num mesmo saco a razão e a emoção, provocando um terremoto em nossas vidas.
Quem um dia sentiu-se assim? Quem tem coragem de afirmar que esses demônios nunca o atormentaram?
Se disser que não, estará mentindo. Vai dizer que nunca se sentiu como se fosse “o mosquito do cocô do cavalo do bandido”
Tudo bem, como dizem por aí “TUDO PASSA”, mas é preciso reconhecê-los como um mergulho e como em todo mergulho, o mergulhador precisa ter cautelas, é preciso se munir delas para seguir adiante.
Perceber-se nesses momentos, quando o fundo do poço nos parece mais fundo,ou mesmo sem fundo é fundamental para a nossa sobrevivência. É a hora do aprendizado. Apesar de eu não concordar que, para se aprender alguma coisa, seja necessário sentir dor, segundo os médicos, a dor é um sinal de alerta que algo vai mal “associada a um processo destrutivo...” E com os sentimentos não é diferente. Se os sentimentos fazem doer a alma, algo está errado e ela precisa de cuidados.
Mas como cuidar dessa sensação sugadora de nossas forças mais profundas?
Aí, mora o nosso desafio do aprendizado. Aí, é a hora de acordamos do cochilo e abrirmos os olhos para olharmos à nossa volta e aprendermos a praticar o arvorismo da alma, atravessando as pontes de cordas sem olhar para baixo. E quando digo isso, é por experiência própria. Vivo praticando o arvorismo da alma, atravessando pontes de corda a nem sei quantos metros de altura. Sempre carregando o medo, e muitas vezes, o pânico ao pensar na travessia, como todo mundo, isso não nego.
Sempre que algo ruim me acontece, no primeiro momento tento colocar os meus pés no chão. Porém, o chão costuma ser um pântano e eu vou ao fundo, me arranhando nos gravetos misturados no barro dos sentimentos e sendo mordida pelos caranguejos emoção. E eu vou fundo. Chego quase a me afogar. Fico sem ar. Desespero. Não penso. Sentimentos soltos são os donos do meu peito. E vou mais fundo. Posso afirmar: para me afundar levo horas, dias, semanas, mas é só o tempo de eu me aprumar colocando as pontas dos pés no fundo para dar o empuxo e devagar voltar.
Ao entrarmos no processo da volta, depois de termos nos descabelado de chorar pelo leite derramado, pela tentativa de consertar coisas que você nem sabia que estavam quebradas, por se sentir culpado pelas coisas que outros fizeram, por se sentir traído, por sentir raiva, por sentir vergonha de carregar essa raiva, por tentar buscar uma solução para algo sem solução, por sentir vontade de ficar, mas ter de ir embora, de ter que apagar uma história, de ter que se afastar de algo ou alguém que você quer bem, de sofrer sem merecer, de gritar sem ser ouvido, é hora de se lembrar de acordar e se lembrar que tudo tem um início, tem um meio e um tem fim. Se você me disser que o fim de sua história foi antes da hora, eu haverei de concordar, algumas histórias agarram e na hora de fazer backup perde-se toda a história. No entanto, é cruciante se permitir viver tudo isso, para depois enterrar a parte ruim e deixar sobreviver somente à parte boa das coisas. Essas serão as forças para andarmos em novas estradas e usufruirmos das novas paisagens, novos companheiros de viagem.
Certa vez, eu havia perdido uma pessoa querida para a morte e passava por um desses momentos de dor profunda, onde eu culpava a própria pessoa que morreu de ter morrido fora de hora, quando caiu-me nas mãos um livro espírita (aqui vale lembrar que não sou espírita e infelizmente, eu não me lembro o nome) onde eu li algo mais ou menos assim: “minha história no seu mundo acabou, deixe-me morrer”. A partir daí, tomei essa lição como compromisso para minha vida em todos os sentidos, mesmo quando os sentidos estão fora de sua razão.
Então, depois de todo o primeiro desespero, de amargar na desesperança, eu tomo fôlego, recolho as folhas mortas e secas da tristeza, faxino a alma, afasto de mim os pensamentos insistentes, guardo as boas lembranças numa gaveta especial do coração e a fecho, para abri-la quando a alma for visitada pela calma.
Se você meu amigo ou amiga está assim, exercite a sua força e coragem para deixar morrer. Delete por um tempo as coisas que lhe chateiam. Não fique fazendo backup de um tempo ou algo que lhe faz mal. Força na peruca. Deixe morrer um amor, deixe morrer uma amizade, deixe morrer um mal entendido, afaste-se um pouco para poder ver melhor, procure aquecer os seus dias com música, poesias, aceite suas contradições, aceite os nãos que lhe deram,seja um louco pela vida, peça um tempo pra saudade, sente na beira da estrada, peça carona pra quem você confia e viaje por outros caminhos, peça pouso em outros ninhos, veja o dia amanhecer e aguarde, "tem sempre algo bom para lhe acontecer, logo ali na frente".
 
 
a frase: "tem sempre algo bom para lhe acontecer, logo ali na frente". - foi dita na novela "Chocolate com Pimenta" da rede Globo - e eu a guardei pra sempre