A morte é dura e fria

Eu não acreditava na morte, assim devia ser com o primeiro homem que a viu em algum de seus semelhantes, antes da própria. Não a posso negar mais, desde quando a sentí bem perto de mim, desde quando atingiu quem mais admirava, minha mãe, agora já fazem alguns anos de sua partida, porém as lembranças permanecem vivas e ainda posso sentir a dureza daquele momento.

A morte foi noturna, a familia reunida, todos sabiam do fim inevitável, alguns ainda acreditavam em milagres, sinceramente sabia o que iria acontecer, mas fingia não saber, era tudo que não queria. Ela estava alí, doente em uma cama improvisada na sala, inconsciente, nós tentávamos dar-lhe alimento na boca, ela recusava tudo, parecia ter desistido de lutar, sabia também do seu fim.

Eu me pegava a pensar no fim logo, mesmo não querendo e me recriminando por pensar assim, mas era um mal necessário, nem todos compreenderam, talvez ninguém, mas deveria haver algum sentido nessa partida precoce, digo assim porque ela sempre tivera uma saúde de ferro, dificilmente era atingida por algum problema desta natureza e de repente foi atacada por esta doença ainda incurável e em estado avançado, uma doença silenciosa e maldita.

Me lembro como hoje, de repente ela parou de respirar, pouco depois chegou o pessoal da funerária, algumas horas depois lá estava ela em um caixão, me aproximei, ela estava pálida e magra, muito abatida pelo sofrimento que perduraram alguns meses, peguei em sua mão, estava fria e dura como pedra, só não chorei porque não podia, como não pude durante o enterro, depois dele e até hoje, simplesmente não posso, chorar.