É preferível ser louco

Não gosto da normalidade. Gente normal fala da vida alheia, é triste consigo mesma. Não se aceita como se é.

Prefiro a loucura de viver a minha própria vida. É um atrevimento muito grande este. Coisa de maluco.

Gente normal é complicada. Elas pensam que elas não têm defeito, e quando encontram seus defeitos ficam deprimidas. Acham que não é normal ter defeitos e como se julgam normais, não pode admitir isto.

Gente maluca também tem tristeza, mas ri de si mesmo. Aí passa.

Gente maluca erra e não se surpreende com os erros. Ousa admitir-se assim, e não se guia pela opinião alheia.

Às vezes é preferível ser louco.

É preferível ser louco pela vida, por exemplo, a ficar reclamando de tudo. Isto é tão normal.

É preferível ser louco por algo, por um sonho que dignifique a alma, um objetivo nobre, a viver para o nada, numa ociosidade que mata, que entristece.

É preferível ser louco por alguém, a amar apenas a si mesmo, não respeitando sentimentos, como um grande Narciso, adorando-se na frente do espelho.

Mas é saudável ser louco por si também. Aliás, é imprescindível amar-se loucamente. Só quem se ama e se respeita muito, transbordando amor, tem este sentimento para repartir.

Quando alguém é interrogado a respeito do que pensa de si mesmo e responde: “Ah, sou normal”. É péssimo.

Longe da vaidade tola, do achar-se mais que outro. Mas não somos normais, não somos comuns. Somos especiais. É só ver o lugar que ocupamos na escala evolutiva e fazer por merecer.

Viver não é algo normal, no sentido de banalidade. Não é algo comum.

Acordar não é algo normal, é algo mágico. Respirar é fantástico, um mecanismo maravilhoso que faz o ar nutrir o corpo. Respirar e continuar vivo numa grande cidade, via de regra poluída, é ainda mais espantoso. Mostra como fomos programados para vencer qualquer coisa.

Andar, então, é algo tão grandioso que nunca tinha me dado conta disto. Nunca pensei: “Vou movimentar esta perna, depois a outra”. Simplesmente ando. Vou começar a agradecer por este milagre.

O Ser Humano é um milagre da vida. Uma obra fantástica, totalmente fora do normal. Obra prima de um Artista Único.

É só olhar para o céu numa noite estrelada e tentar contar as estrelas para entender a grandeza da nossa essência.

É só fechar os olhos e tentar nos imaginar caminhando no espaço infinito para entender como é grande nosso autor, a natureza mãe, como quiserem chamar a origem de tudo, e entender que somos seus herdeiros.

É preciso enxergar a valorizar o milagre da vida. É preciso comprometer-se com a vida intensamente, loucamente. Sem medo de perder, de cair, de se decepcionar, coisas que podem acontecer realmente.

Aliás, ficar triste quando isto acontece é normal. Mas levantar-se, superar-se, continuar tentando e sorrindo, e acreditando que vale a pena sempre é coisa de maluco, louco.

E deste ponto de vista é preferível a loucura de seguir adiante, do que a normalidade de deixar de sonhar, de ter opinião própria, de questionar o sistema, e se conformar em ser apenas mais um.