HORIZONTAL

No ventre da nossa mãe vivemos confortavelmente protegidos, aquecidos e alimentados. Temos uma grande curiosidade de conhecer o mundo externo, mas dependemos do tempo, só no momento programado é que teremos a oportunidade de deixar aquele ambiente. O tempo vai passando e a cada dia experiências novas vivemos, é a formação da mão, do pé, a unha, o cabelo, os olhos, etc. Já ouvimos vozes, principalmente da mamãe e do papai, começamos a imaginar como eles devem ser, se assim ou assado. É desagradável quando alguém grita perto da mamãe e estamos repousando, levamos um susto e ficamos irritados, começando a dar chutes na sua barriga para protestar e mandar um recado que parem de gritar.

O tempo passa e chega o momento tão esperado, luzes, câmera, ação! Chegamos berrando, nossa que sufoco, quantos obstáculos e dificuldades. Ainda para ajudar o médico me vira de ponta cabeça e dá tapas na minha bundinha, sendo que nada fiz para ele, por que me bater então?

Uma enfermeira me embrulha numa toalha e sai correndo comigo, sujeita a tropeçar e me derrubar pelo caminho. Vamos para um lugar onde tem mais bebes como eu, dá um banho total em mim, limpa tudo e começa a me trocar. Sinto fome e não sei o que fazer, aquele cordão não funciona mais como antes, e agora como vou me alimentar? Cadê minha mãe? O jeito é chorar pra ver se vão me entender e me dar algum alimento e me ponho a chorar, quando de repente me colocam um negócio de plástico que fecha minha boca e me impede de berrar. É uma tal de chupeta, que coisa ruim que é... Mais alguns minutos e estou com a minha mãe que encosta minha boca no seu peito para que eu pudesse mamar, o que não foi muito difícil.

Conheci mamãe, papai, meus avós, irmãos, todo mundo fazia a maior festa comigo, só que falavam coisas que não entendia, bilú bilú, coisa fofa, gracinha, umas coisas sem pé e sem cabeça.

O tempo foi passando e a cada dia aprendia novas coisas, como falar, andar, comer, brincar, etc. Quanto maior ficava menos as pessoas davam importância para mim, fui deixando de ser o queridinho de todos.

Escola, trampo, minas, cabeçadas, diversão, até que um dia encontrei meu par, casei e começamos a constituir a nossa família, iniciando todo o processo novamente através dos nossos filhos.

Ficamos a maior parte do tempo na vertical, trabalhando, estudando, se divertindo, etc., quando chega a noite precisamos repousar e aí sim ficamos na horizontal.

Quando dormimos nos encontramos na horizontal, nos preparando para o sono eterno, certeza para todos, chega também o nosso momento da volta. Será muito bom que estejamos em paz, nos sintamos com a consciência tranqüila de que cumprimos com a nossa obrigação e que tenhamos realmente plantado sementes que germinarão e darão bons frutos.

Vladis
Enviado por Vladis em 11/02/2006
Código do texto: T110359
Classificação de conteúdo: seguro