EMAIL PARA ANINHA

Falemos então de doença e morte.

Eu odeio doenças. Suporto a velhice, doença não. Que terrível ficar doente, seja em casa ou no hospital.

O mundo está de pernas para o ar. Agora pais têm que sofrer vendo filhos adoecendo e morrendo.

Sempre tive atração pelo tema da morte. Nunca esqueço quando aquela professora Ivone Mendonça lia tão apaixonadamente poemas de Álvares de Azevedo. Na faculdade tornei a me encontrar com os tísicos do mal-du-siècle.

Eu me danava a escrever poemas falando de morte, tinha até um no qual uma mosca sobrevoava e fazia piruetas no nariz cheio de algodão do defunto. A mãe de Áurea Dória achava graça do poema. Não sei que fim levaram esses versos.

Prefiro anestesiar-me quando penso na morte. Detesto enfrentar coisas sobre as quais nenhum argumento poderei tentar. Então, quando me lembro da morte eu leio, escrevo, ouço rádio, tomo vinho, penso na poesia e vou levando e fazendo de conta que ela e a doença são produtos da nossa fértil imaginação.

O único enfrentamento da morte é na poesia onde a gente também pode ressuscitar, rejuvenescer, fazer tudo o que quiser.

Engana-se a morte com a poesia.

Ilude-se a doença com o sol, olhando passarinhos. Nunca soube de um passarinho internado na UTI. Cuido para ter alma de passarinho, sorriso de mentrasto, asas de borboleta, mãos de louva-deus, movimentos de libélula, olhos lindos e inteligentes como os da coruja.

Se um dia eu ficar doente, não me visite. Não me venha ver caída, vencida.

Só quero andar com os amigos pelas calçadas, praças, avenidas. Sentar em algum lugar para tomar um café, conversar. Um dia eu li que os elefantes sabem quando estão próximos da morte e se isolam da manada, ficam num lugar distante e esperam firmes até a morte os derrubar. Vou ficar com os elefantes.

Por que nos apegamos tanto à vida? De que sabemos que não nos lembramos?

Esquecer quem somos é uma doença?

Não será melhor esquecer tudo e viver na inocência de um mundo deletado?

Não, esquecer não. Vão ficar aqueles parentes chatos com cara e tristeza e de piedade e tendo que explicar tudo aos amigos, aos colegas de trabalho: "Olhe, ela era tão inteligente, hoje nem do nome se recorda mais". Que horror!

Viremos as costas a todas essas coisas e saiamos por aí nos braços da ilusão.

Bjs.

Tânia