Deserto
Quantos olhos te veem passar tão perto
sem nunca poder serem os meus?
Não... não é ciúme nem desdém nem desalento
...é tristeza, saudade pura, constrangimento
e essa indagação ao pensamento:
-Por que há os outros olhos que te veem...
e eu aqui... na luta vã... a desfolhar essa distância tanta?
Que fado tirou-nos um do outro naquele tempo longe
em que o viço, a gana de seres meu e eu ser tua
entregaria a nós toda a felicidade apetecida?
O tempo... tanto tempo!
Esse mesmo tempo que hoje vem tão apressado
a querer ganhar para si aquele tempo longínquo do passado...
...assim vivo... nesse mesmo tempo...
sabendo que há os olhos que te veem tão perto
...e eu aqui, tão longe, sem rumo... Tudo é deserto.