Não alimente a ilusão do controle

Nenhuma pessoa que passa por você

veio ao mundo para estar sob o seu comando

De igual modo, você também não ganhou existência

para estar sob a vontade de nenhum semelhante

Lembre-se que a sua liberdade não vai até onde

começa a do outro, mas que ela pode se estender

até onde vai a liberdade de quem está junto a você

Fora da sanha controladora, livre é a sua condição

Quando uma pessoa de saudar, veja na saudação

o reconhecimento da humanidade em comum

Quando alguém não o saudar, não o condene;

antes, interrogue-se: que diabo sou eu no mundo?

Humano ou diabo, você não controla ninguém

Tenho dúvidas se, absolutamente, até os seus

próprios passos você é hábil para controlar

Se alguém se aproximar de você, deixe-o estar

Não dirija o gesto e o dizer alheios, porque o

estar é o modo de ele ser e de ele lhe dar a

relação, o laço, a vinculação e o conviver

A diferença na existência é que é fundamental

Triste e lúgubre é a repetição do mesmo como se

o igual controlado fosse o todo a experimentar

Se alguém dirigir-lhe a palavra, ouça então

o que a palavra quer dizer – a palavra mesma

Não ouça na palavra do outro a palavra

que gostaria de ouvir – a sua interpretação

E se a palavra brotar de você, o emissor,

Faça seu verbo dizer o que você tem a dizer

A naturalidade se abespinha no querer controlar

Se alguém se fizer colega, amigo, companheiro

ou amante para você, e se, ao contrário, o outro

só souber ser estranho, falso, aproveitador ou

um grande meliante em face do que você é,

respeite a escolha que ele fez, pois é assim

que ele se enxerga perante os próprios olhos e

cara a cara com sua mente e com seu coração

Novamente, deixe simplesmente estar e ser

Não, jamais, nunca queira controlar

Controle, apenas, sua sede de controle

Controle nenhum rima com liberdade e risco

Controle algum rima com vontade de viver

E viver desbragadamente é tudo o que você

pode fazer nessa curta vida, que pode ser

intensa, grande e bela – desde que você

não se entregue à feiúra, à pequenez e à

frouxidão do controle, essa quimera que

não faz bem nem a mim nem a você