Publique seu livro

Wilson Correia*

"As coisas que temos de aprender

antes de fazer, nós as aprendemos

fazendo-as" (ARISTÓTELES. "Ética a

Nicômaco", livro 2).

A internet está repleta de anúncios tentadores, do tipo: “Publique seu livro!”. Mas você sabe como se publica um livro?

De antemão, confesso que me familiarizei com o assunto depois de ler “BACELAR, Laura. 'Escreva seu livro: guia prático de edição e publicação'. São Paulo: Mercuryo, 2001”.

Trata-se de um trabalho interessante e valiosíssimo se você quer saber, de maneira detalhada, sobre os meandros da escrita com vistas à publicação no Brasil.

Neste escrito aqui, não sigo Bacelar. Vou procurar compartilhar a minha própria experiência e vivência em meio aos processos de escrever e publicar.

Para começo de conversa, é bom saber que existem, basicamente, três caminhos para você fazer com que seu escrito vire livro, igual àquele que adquirimos nas livrarias: por meio da autopublicação, da publicação por editora universitária ou por editora comercial (tradicional).

1 A AUTOPUBLICAÇÃO

A autopublicação é uma modalidade de publicação de livro em que o autor paga todo o custo do processo. Além disso, o material não passa por nenhum tipo de avaliação, pois o que liquida o assunto é o pagamento da conta estabelecida em contrato. Por não passar por nenhum tipo de avaliação, esse tipo de material não é bem visto no meio.

Em que pese o fato de se atribuir autopublicação a autores como Alexander Dumas, Benjamim Flanklin, Bernard Shaw, Byron, Deepak Chopra, Edgar Allen Poe, Ernest Hemingway, Ezra Pound, G. H. Lawrence, Herman Melville, Kenbalnchard, Kipling, Mark Twain, Proust, Stephen King, T. S. Eliot, Thorreau, Tolstoi, Virgínia Woolg, William Blake, entre outros, isso não é argumento suficiente para garantir que a autopublicação seja o melhor caminho. Lembre-se: quando Carlos Drummond de Andrade se tornou "O Drummond", não nos interessava mais como o escrito dele chegaria até nós, pois o que queríamos era ler o que ele havia escrito. Contudo, para chegar a esse ponto, um longo caminho se coloca à nossa frente.

Ademais, cabe ressaltar, quem paga para publicar livro depois terá de vender os exemplares da obra por conta própria, ou ficar com aquele monte de exemplares da obra em casa, entulhando tudo o que é espaço.

Um livro autopublicado é de fácil identificação: normalmente, na página em que aparece a ficha catalográfica da obra, há um espaço para a indicação sobre os direitos autorais da obra, a quem, de fato, eles pertencem. Aí, se no lugar do nome da editora aparecer o do autor ou dos autores, seguidos do símbolo C dentro de um círculo, o símbolo de "copirraite", invariavelmente, não há dúvida: trata-se de um livro autopublicado. De outra forma, se, na mesma folha, não aparecer a nota de reserva de direitos pela e para a editora que publica o livro, ele é autopublicado.

Por essas e outras razões, a autopublicação não é aconselhável.

2 PUBLICAÇÃO POR UMA EDITORA UNIVERSITÁRIA

Se você é professor ou desempenha atividades profissionais afins e seu assunto interessa a estudantes de terceiro grau e correlatos, o segundo caminho pode ser o de uma editora universitária.

Ela tem conselho editorial, avalia seu material e dá credibilidade ao livro. Porém, trata-se de um processo que demora bastante. Às vezes, esperamos até dois anos para receber uma resposta de “aceite” ou “recusa” do material e mais dois anos para o livro ficar pronto.

Com honrosas exceções, é mais ou menos assim que funciona. Porém, ainda que haja tanta pedra, esse ainda é um caminho interessante para quem segue a carreira acadêmica, a qual envolve pesquisa, ensino e extensão e que exige o percurso formativo que inclui graduação, especialização, mestrado e doutorado.

Vale ressaltar, anda, o fato de que algumas editoras universitárias de universidades privadas estão promovendo a autopublicação mascarada. Como isso acontece? Ela “empresta” o selo ao autor do material, o qual arca financeiramente com o custo de todo o processo. Na dúvida, faça o teste do copirraite: tem C dentro de um círculo?, seguido do nome do autor ou dos autores? Se tem, é autopublicação.

3 PUBLICAÇÃO POR UMA EDITORA COMERCIAL (TRADICIONAL)

Esse caminho não é menos trabalhoso que o anterior. Talvez ele seja mais penoso. É que, depois de terminada a obra, o autor escolhe umas dez, doze editoras que julga ter linha editorial harmonizada com o seu tema, candidata a acolher o manuscrito, e envia para elas cópia impressa do texto (algumas já aceitam por e-mail). Recebido o manuscrito, a editora aceita ou não. Se a editora aceitou, ela dá início ao processo de avaliação, com várias etapas, dependendo da editora, mas, geralmente, compreendendo:

a) Adequação à linha editorial

Aqui, a pergunta que os avaliadores tentam responder é: “A obra se ‘encaixa’ em nossa linha editorial?”

Uma editora especializada em filosofia tem dificuldade em aceitar originais de história em quadrinhos, por exemplo, a menos que a história seja de filosofia, compreende? Como uma editora especializada em publicar obras de medicina se interessará por uma obra sobre assuntos filosóficos?

b) Público-alvo

Aqui, a resposta que os avaliadores terão de responder é: “O público-alvo visado pelo manuscrito encontra-se entre o nosso público-alvo maior?” Se o livro é destinado a donas de casa, como querer que uma editora voltada para estudantes possa publicá-lo?

c) Mérito científico, filosófico ou artístico

Essa avaliação é, na minha concepção, o cerne de todo o processo de avaliação. Se um livro trata de filosofia, normalmente a editora contrata um filósofo especializado no assunto para emitir um parecer sobre a obra, por exemplo, caso ela não o tenha em seu conselho editorial. Se o parecer for “favorável” à publicação, a editora acata em definitivo o manuscrito. Se não, recusa.

d) Aspectos estilísticos

O estilo do autor casa com o mérito científico, filosófico ou artístico, tendo em vista o público-alvo? Se sim, ponto a favor da publicação. Se não, o autor perde ponto e pode ter o manuscrito recusado apenas por isso.

e) Viabilidade comercial

O público-alvo visado pelo manuscrito existe no mercado, potencialmente interessado em adquirir o livro? Note que, por mais que o capitalismo seja um sistema de risco, uma editora comercial jamais irá assinar a própria falência. Logo, o livro terá de ter um potencial de venda considerável para ser aceito por esse tipo de editora, mas com qualidade teórico-metodológica, senão não adiante a existência do público visado.

f) Assinatura de contrato

É viável a assinatura de contrato entre a editora e esse autor? Pode ser que sim, pode ser que não. Uma série de fatores indicarão o caminho a seguir aqui. Quando apontam para a assinatura do contrato, então o autor está vitorioso. Mas, aí, já terão se passado, no mínimo, seis meses. Outros 4 ou 6 meses e ele poderá cheirar a tinta do seu livro e vê-lo exposto nas livrarias.

O bom desse último processo é que tudo o que diz respeito à promoção e divulgação do livro, incluindo lançamento e distribuição e comercialização, fica por conta da editora. Essa parte financeira não cabe ao autor. Ele só recebe os dez por cento do preço de capa, e tudo estará bem.

Como se vê, não é fácil o caminho das pedras. Porém, difícil é o que não queremos fazer. Quando queremos algo com toda a nossa força, isso se materializará. Foi o que aconteceu comigo, que já conto cinco livros publicados, pelas seguintes editoras: Vozes, Edufu, Kelps, EPU e Ciência Moderna.

Não desanime! Ainda que trabalhoso não seja reconhecido por quem não entende do assunto ou não tem a experiência no ramo e ainda se dá a arrogância de falar do que não sabe e não vive, seu livro poderá lhe trazer inúmeras alegrias!

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009.